sábado, outubro 04, 2008

“Onde está a esquerda?”

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" Vai para três ou quatro anos, numa entrevista a um jornal sul-americano, creio que argentino, saiu-me na sucessão das perguntas e respostas uma declaração que depois imaginei iria causar agitação, debate, escândalo (a este ponto chegava a minha ingenuidade), começando pelas hostes locais da esquerda e logo, quem sabe, como uma onda que em círculos se expandisse, nos meios internacionais, fossem eles políticos, sindicais ou culturais que da dita esquerda são tributários. Em toda a sua crueza, não recuando perante a própria obscenidade, a frase, pontualmente reproduzida pelo jornal, foi a seguinte: “A esquerda não tem nem uma puta ideia do mundo em que vive”. ...

Já tenho a explicação: a esquerda não pensa, não age, não arrisca um passo. Passou-se o que se passou depois, até hoje, e a esquerda, cobardemente, continua a não pensar, a não agir, a não arriscar um passo. Por isso não se estranhe a insolente pergunta do título: “Onde está a esquerda?” Não dou alvíssaras, já paguei demasiado caras as minhas ilusões."

São palavras de José Saramago no seu blog. Surpreendem por duas razões. Primeiro, porque eu pensava que esse olímpico silêncio só se aplicava aos cidadãos comuns, como eu, que também tenho feito pergunta equivalente ainda que num ângulo diverso.
Segundo, porque eu julgava que um homem com a idade de Saramago, que tanto e tão bem medita sobre a condição humana, já teria percebido que entre nós se maneja o silêncio com inusitada maestria.

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