terça-feira, agosto 05, 2008

Marx, le retour

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O Courrier International francês, nos seus últimos três números (924, 925 e 926), dedica um conjunto de artigos ao que designa por "Marx, le retour".
O mais original ou, se quisermos, exótico é da autoria do britânico Francis Wheen, "Le Capital est un roman".
Nele se discute a possibilidade de a obra mais importante de Marx "não ser apenas um clássico da economia política mas também uma obra-prima da literatura".
Ao longo de três páginas o autor disserta sobre a familiaridade e o apego de Marx aos clássicos da literatura que surgem recorrentemente citados na sua obra.
Segundo Wheen "O Capital" é completamente sui generis.
Nada existiu de comparável, nem antes nem depois. "Essa é sem dúvida a razão pela qual O Capital foi também sistemáticamente desdenhado ou mal interpretado".
Ao incluir um tal tema nos meses de Julho e Agosto o Courrier International tem certamente a intenção de fornecer uma leitura de praia inteligente q.b.

2 comentários:

Anónimo disse...

Julgo saber que, também em Portugal, sob a égide de não sei que jornal, teria sido também recentemente iniciada a publicação de alguns escritos de Marx.

Eu não estaria assim tão certo que a táctica de atribuir carácter inofensivo ao inimigo, o torne de facto, por via disso, inofensivo.

Tenho ainda presente um acidente ocorrido há muitos anos, quando era instruendo em Mafra, com o oficial que na ocasião ministrava instrução em manuseio de granadas ao grupo de que fazia parte. No afã de mostrar a sua perícia e à vontade no manuseio do engenho que tinha na mão, e a suposta ausência de perigo que o conhecimento conjurava, perante a estupefacção de todos os presentes ficou mesmo sem ela – a mão.

Ora, até os jogadores de futebol – que segundo a opinião generalizada não são em regra gente dotada de muitos saberes – sabem ser de mau conselho menosprezar o adversário.

Encontro-me nesta altura a ler “O Capital” – nunca antes tinha lido nada de Marx – e julgo continuar a encontrar nele pistas bastantes para confrontar o capitalismo de hoje, que no essencial não me parece assim tão diferente do que seria no seu tempo.

nelson anjos

F. Penim Redondo disse...

Cara Nelson

O Marx é realmente um continente muito vasto onde se pode encontrar quase tudo (como certas pessoas encontram na Bília a previsão dos mais banais acontecimentos da actualidade).

A primeira e talvez mais importante discussão deveria ser sobre o "essencial" de Marx (ligada a essa está a questão de saber o que é identitário no modo de produção capitalista). Só depois se poderá invocar a paternidade com algum critério.

A maior parte das pessoas, incluindo alguns que escrevem no Courrier, estão convencidos de que basta "ter pena dos pobrezinhos" para ser marxista. Não concordo.