.
O Governo adiou para Janeiro a discussão da proposta de alteração da carreira médica, que logo tinha suscitado a oposição dos Sindicatos, e vai reformulá-la.
Por outros exemplos, receio bem que a Ministra faça finca-pé em aspectos que não têm grande relevância para o serviço prestado à população, e vá abrir mão daqueles que poderiam de facto contribuir para um melhor SNS.
Por exemplo, insistir por um lado em que os médicos trabalhem mais horas por semana, pagando-lhes o mesmo. E por outro abrir mão da exigência de só os médicos com mais de 55 anos poderem ser dispensados das urgências nocturnas. Ou de as competências de determinados graus médicos serem revalidadas de 5 em 5 anos. A ver vamos.
Por outro lado, não é difícil descortinar nas reacções à proposta uma guerrinha entre Ordem e Sindicatos, subjacente à unidade da corporação em defesa do seu “estatuto”.
Claro que as vitimas do “conflito em larga escala” com que o presidente da Federação ameaçou o Governo, serão exclusivamente os doentes que os senhores doutores eram supostos servir...
Esta situação, assim como o conflito entre os sindicatos dos professores e o Governo, deve levar-nos a repensar a legitimidade social e ética de certas corporações profissionais que prestam serviços de primeira necessidade por conta do Estado utilizarem a greve como meio de reivindicação sindical.
Por coincidência, ouvi hoje que os jogadores do Estrela da Amadora, apesar de não receberem ordenado, não tinham feito greve ao jogo com o Futebol Clube do Porto...
Jogassem eles por conta do Governo e outro galo cantaria!
por Maria Rosa Redondo
(nossa analista, em exclusivo, do tema "clubes e corporações")
A Síria ,a CNN ,a CIA e o MI6 disfarçados de capacetes brancos
-
NO dia 7 de dezembro, o HTS e a Turquia tomaram a prisão de Saïdnaya. A
prisão de Saïdnaya foi um dos principais alvos da propaganda de guerra, que
a ape...
Há 21 minutos
4 comentários:
Rosa,
Fui buscar um elástico para fechar a boca. Esquece os casos concretos e relê o que escreveste:
«Esta situação (...) deve levar-nos a repensar a legitimidade social e ética de certas corporações profissionais que prestam serviços de primeira necessidade por conta do Estado utilizarem a greve como meio de reivindicação sindical.»
Quando tiveres repensado avisa -porque começo a crer que já não estás a viver na reencarnação em que te conheci.
Tudo mudou muito e eu também - mas, «quand même»...
Joana,
Não sou o autor do texto, que te responderá se e quando entender, mas partilho as mesmas preocupações.
A greve foi criada para dar aos trabalhadores um instrumento minimamente eficaz na tentativa de reduzir o enorme desiquilíbrio de poder a favor do patronato.
Ao longo do tempo já vimos como a greve pode ser usada até por reaccionários contra Governos legítimos (Allende por exemplo).
Por isso as greves não são necessáriamente coisas boas e que mereçam sempre o nosso apoio.
Para mim,no quadro da luta sindical, devem obedecer a duas condições:
1. defenderem pretensões justas e que não ponham em causa, de forma egoista, o interesse geral
2. a sua execução afectar principalmente a sua entidade patronal
É fácil perceber que não apoio greves que se propõem obter, ou reforçar, situações de privilégio e cujas consequências sobrecarregam quase exclusivamente a vida de cidadãos "inocentes".
Se o objectivo é político, ou seja, prejudicar indirectamente a imagem do Governo então estamos perante uma actuação dissimulada com a qual não concordo pois não só prejudica os cidadãos como manipula uma parte dos grevistas.
Como a eficácia de tais manobras é muito improvável nem preciso de invocar o facto de, vivendo nós numa democracia, tal método ser bastante questionável.
Em situações de opressão e tirania política quase todas as reacções são legítimas, mas não é o nosso caso.
Como é que compatibilizamos o histórico e justo "direito à greve" com estes desvirtuamentos, estas utilizações abusivas, é algo em que teremos que pensar. É precisamente isso que a Rosa sugere.
Por vezes é preciso chocar as pessoas para as levar a reanalisar os seus “caminhos de pensamento”, pois de tantas vezes maquinalmente lá passarem, podem já não se dar conta que a “paisagem e os transeuntes” já não são os mesmos.
Já estava à espera de comentários como o da Joana, só não sabia quem ia fazer o primeiro.
Não sou contra nem vou discutir o “direito à greve”, como não discuto por ex.o “direito à saúde”. Mas não vou esquecer os “factos concretos” porque é deles e não de conceitos abstractos que se fazem os conflitos sociais e as lutas politicas.
No que à teoria diz respeito, convém relembrar que a greve consiste na recusa por parte do assalariado em prestar o trabalho para o qual foi contratado, com o objectivo de, causando prejuízo ao patrão, o levar a atender as suas reivindicações.
Na prática, se analisarmos as greves dos últimos anos constatamos que quase exclusivamente são feitas por trabalhadores do Sector Publico ou equiparado, ou seja que têm como patrão, directa ou indirectamente o Estado.
Com poucas excepções (talvez os funcionários das Finanças...) a paralisação não causa qualquer prejuízo directo à entidade patronal, que eventualmente até poupa nos salários.
Já aí, os factos se afastam da teoria.
Mas, nem todos os “assalariados do Estado” são iguais!
E aqueles a que me referia são os que fazem parte das chamadas “corporações”, de que dei como exemplo os médicos e os professores.
São trabalhadores com estatuto social, geralmente bem remunerados e que executam funções essenciais à vida e bem estar dos cidadãos. E fazem-no por delegação do Estado que através deles é suposto garantir direitos essenciais como “direito à vida”, “direito à saúde”, “direito à educação”, etc.
Ao recusar executar essas funções estão portanto a pôr em causa esses mesmos direitos.
Porquê? Porque o seu estatuto como trabalhadores do Estado, impede que este prescinda dos seus serviços e cumpra os seus deveres para com os cidadãos usando, se necessário, outras pessoas ou outros meios.
Falando em português corrente: como sabem que não podem ser despedidos, usam o transtorno que causam à população como meio de pressão sobre o Governo para defenderem/obterem privilégios corporativos.
Convém não esquecer que muitos desses profissionais, quando exercem as mesmas funções no sector privado, às vezes simultãneamente, não fazem greve....
Portanto, a minha interrogação é muito simples:
Considerando como um dado adquirido que os direitos de cada um são limitados pelos direitos dos outros e que o Estado deve garantir aos cidadãos os seus direitos fundamentais, é aceitável que aqueles em quem o Estado delega essa função, usem especìficamente a greve como forma reivindicativa?
Enviar um comentário