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"As famílias portuguesas podem esperar ter um melhor rendimento disponível em 2009, que advirá da baixa da Euribor e da baixa da taxa de juro. Isso vai aliviar muito as famílias nas suas prestações para pagarem os créditos à habitação, que são hoje uma componente muito significativa das despesas familiares"
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"Provavelmente ninguém aqui estará interessado em saber o que acontecerá daqui a dois anos. E a verdade é que há boas razões para essa atitude, porque o Cabo das Tormentas, o momento mais difícil, vai ser justamente 2009"
Estas duas frases, ambas proferidas em Dezembro de 2008, levaram os comentadores e os partidos da oposição aos píncaros. Contradição, manipulação, desorientação...
Eu, que não faço ideia sobre o que ia na cabeça de Sócrates, admito a hipótese de qualquer das suas afirmações ser verdadeira. Porquê ? Porque nem todos os portugueses vão ser afectados pela crise da mesma maneira.
Há pelo menos três grupos:
grupo A - pessoas com rendimentos estáveis (funcionários públicos, pensionistas, empregados em empresas sólidas e, claro, aqueles que têm importantes patrimónios e rendimentos muito altos seja de que tipo for). Este grupo pode realmente ver o seu orçamento beneficiado com a baixa geral dos preços que se perspectiva. Aplica-se-lhe a primeira frase de Sócrates.
grupo B - os que vivem do pequeno comércio, da prestação de serviços pessoais (merceeiros, actores, artesãos, biscateiros, barbeiros, etc). Este grupo vai ver os seus rendimentos reduzirem-se e isso até pode acontecer numa escala que não seja passível de compensação pelo abaixamento dos preços.
grupo C - os que estão ou vão ficar desempregados, os que perdem os seus negócios e, em geral, os que perdem as suas habituais fontes de rendimento. Este grupo está totalmente à mercê da ajuda pública para sobreviver. Para muitos o único rendimento será o subsídio de desemprego..
Aos grupos B e C aplicar-se-ia portanto a segunda frase de Sócrates.
Em vez da vozearia genérica é a esta luz que as políticas sociais devem ser desenhadas.
O anúncio recente de empréstimos aos funcionários públicos, por exemplo, não tem qualquer lógica.
O governo deveria era anunciar medidas de apoio aos grupos B e C, incidindo fortemente no melhoramento e extensão dos subsídios de desemprego com o acompanhamento necessário para evitar utilizações abusivas.
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