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D. Afonso V não pôde levar consigo repórteres de imagem quando tomou Arzila e Tânger. Não houve reportagens em directo, relatos ao vivo por jornalistas a falar para as câmaras enquanto, ao fundo, as tropas cercavam as cidades do Norte de África e venciam batalhas. Estávamos no final do século XV e a forma mais aproximada que o rei português tinha de registar os seus feitos era mandá-los tecer em tapeçarias. Foi o que fez.
Agora, pela primeira vez, as quatro Tapeçarias de Pastrana encomendadas por D. Afonso V - enormes panos de armar com quatro metros de altura e 10 de largura - podem ser vistas (até 12 de Setembro) no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). D. Afonso V e a Invenção da Glória é inaugurada hoje na presença das ministras da Cultura de Portugal e de Espanha, Gabriela Canavilhas e Ángeles Gonzáles-Sinde. Desde o século XVI que as tapeçarias - agora completamente restauradas, num processo conduzido pela fundação espanhola Carlos de Amberes - não estavam reunidas em Portugal.
As tapeçarias, belíssimas, são a prova de que em pleno século XV já tínhamos um governante dado ao show-off.
O rei e a sua escolta entram imponentes nas cidades derrotadas mas os muitos que se afogaram ou foram trespassados não constam do retrato.
Comprova-se que a pecha política de alindar a realidade, de mostrar apenas a sua parte favorável, não é só de hoje.
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