sexta-feira, janeiro 23, 2009

Fartos da birra

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"O primeiro-ministro anunciou, enquanto secretário-geral do PS, que na sua moção para o próximo congresso do partido propõe a legalização do casamento civil das pessoas do mesmo sexo. O anúncio teve lugar domingo passado. O assunto foi objecto de destaque nas notícias, nomeadamente quanto à hipótese de essa legalização incluir ou não a possibilidade de adopção. Esse destaque não resultou, no entanto, naquilo que normalmente se segue ao anúncio de uma medida considerada polémica: não houve declarações inflamadas da oposição (nem à esquerda nem à direita), nem debates na TV com gente contra e a favor. Os representantes das associações LGBT, que deviam ser disputados em noticiários televisivos, não deram sinal de vida na pantalha - à excepção da TVI, ninguém os chamou. Nem a sempre instantaneamente excitada blogosfera deu sinal de indignação. Será que afinal a medida é pacífica?"
Fernanda Câncio no DN 23.01.2009 e no JUGULAR.

A reacçao da Fernanda é como a das crianças que têm a mania de fazer birras rojando-se pelo chão e que, um dia, os adultos resolvem ignorar e deixar fazer o que lhes passar pela cabeça.

Acabou-se a graça da birra ou, no caso vertente, a romântica luta na defesa dos perseguidos (neste caso os perseguidos têm força suficiente para torcer Sócrates, o que nem os professores ainda conseguiram).

Do alto da sua autoridade democrática, numa fase da vida em que pode bem com as chantagens, Mário Soares veio, no Público, reduzir a questão à sua modesta dimensão:
"Os casamentos entre homosexuais são (questões) de consciência complicadas, não são esses os problemas fundamentais... mas há certos radicais que querem ir adiante para mostrarem que são de esquerda".

Aqui ficam algumas pistas para a Fernanda perceber porque razão o anúncio de Sócrates não causou alarido:

1. o pessoal acha que este é um "não problema"
2. o pessoal está farto de aturar birras
3. o pessoal já sabe que Sócrates, como em geral os políticos em vésperas de eleições, quer jogar pelo seguro e portanto não há mais nada a fazer.

A Fernanda devia tentar perceber que a generalidade das pessoas que se opõem ao tal casamento (parece que são a maioria) não querem perseguir ninguém. Quem é contra o casamento hetero, não está numa de perseguir os heteros, nem quer acabar com as relações heterossexuais. Acha apenas que o casamento é uma instituição desnecessário ou mesmo prejudicial.

Num momento em que devíamos estar todos a gritar "acabem com todos os casamentos" aparecem uns maduros, cujo charme podia precisamente ser irem contra as convenções. a dizer que querem ser como os mais convencionais dos burgueses.

Mais uma vez lhe digo: sou contra o casamento, e em especial o casamento gay, por razões estéticas. Mas se os gays querem fazer figuras ridículas e casar-se, eu por mim tudo bem, não haverá nenhum cataclismo.
Realmente tenho mais em que pensar. Que sejam muito felizes e tenham muitos meninos (adoptados, bem entendido)
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3 comentários:

Luís Maia disse...

Completamente de acordo contigo, também não admira, somos da mesma colheita.

mas adorei essa de seres contra por razões estéticas

Anónimo disse...

O Fernando hoje veio numa de provocação radical.

Eu por mim também estou de acordo, incluindo essa das "razões estéticas". Claro que concedo a todos os outros o direito a estéticas diferentes da minha :)

nelson anjos

F. Penim Redondo disse...

Quem viveu os anos 60 intensamente ficou com a imagem do casamento como uma aberração burguesa.
Faz portanto impressão ver hoje alguém pensar que é de esquerda "ter o direito" de casar-se.

Se pensarmos um minuto percebemos que o casamento não resolve nada.
Talvez por isso há muita gente que não se casa apesar de ter vida em comum.
Eu tenho dois filhos (37 e 33) e nenhum deles se casou ainda apesar de coabitarem há anos com as suas "namoradas".