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O esquema apresentado acima destina-se a mostrar como as decisões individuais de consumo podem influenciar os efeitos da crise.
Para isso tomemos as seguintes definições:
- ciclo de rendimento é o período, normalmente de um mês, que medeia entre duas ocorrências consecutivas de obtenção dos rendimentos da maioria da população. É essa a periodicidade dos salários obtidos das empresas privadas e do Estado e das pensões de reforma.
- empresas locais são aquelas que vivem de fornecer produtos e serviços e onde nós, ou a nossa família e vizinhos, poderíamos físicamente trabalhar ou, de qualquer forma obter rendimentos. Entidades que se encontram digamos num raio de 50 quilómetros à volta da nossa residência.
- empresas remotas são aquelas que não cabem na definição anterior.
Comecemos por tomar três exemplos de consumo, todos relativos ao entretenimento e supostamente com o mesmo valor, na linha do esquema apresentado mais acima:
- a compra de um DVD na Amazon, trata-se da compra de um produto a uma empresa remota (a vermelho no esquema)
- a compra de bilhetes de cinema, trata-se da compra de um serviço a uma empresa local com baixa incorporação de trabalho (a azul no esquema)
- a compra de bilhetes num teatro funcionando em modo cooperativo, grande parte do preço pago destina-se a remunerar o trabalho dos actores, encenador e técnicos. (a verde no esquema)
Quando compramos um produto ou serviço empresarial o rendimento regressa à sua origem em vez de passar para um novo nível de consumo, como rendimento e modo de vida daqueles que não auferem salários ou pensões regulares. É o que acontece quando preferimos comprar uma máquina para cortar o cabelo em vez de, com o mesmo dinheiro, frequentar o barbeiro durante um certo número de meses.
No esquema apresentado a título de ilustração figuram três níveis. O “nível 1” é o dos rendimentos “primários” obtidos directamente das empresas ou do Estado, sob a forma de salários ou pensões. No “nível 2” e “nível 3” observa-se a passagem desse mesmo rendimento primário para prestadores de serviços constituindo assim modo de vida para um conjunto de pessoas que operam fora da relação assalariada e que não têm assegurados quaisquer rendimentos regulares.
Para um dado volume de rendimento obtido sob forma de salários ou pensões no “nível 1”, em cada ciclo de rendimento, é viável um número de pessoas não assalariadas subsistindo pela venda de serviços pessoais ou pela venda de produtos próprios de carácter não empresarial.
Essa viabilidade depende da forma como os rendimentos são gastos por cada um de nós e da velocidade com que circulam os rendimentos entre o início e o fim de cada ciclo.
Quanto maior for o peso dos produtos relativamente aos serviços pessoais no dispendio dos nossos rendimentos, e quanto mais lenta for a efectivação dos consumos durante o ciclo, menor será o número de “independentes” com viabilidade económica numa determinada sociedade.
Quando se fala da aquisição de produtos importa porém distinguir os que são produzidos e distribuídos por empresas locais daqueles que provêm de empresas remotas, já que só os primeiros têm a faculdade de gerar emprego assalariado para a comunidade local. Quem não constatou já os efeitos perversos da inexistência de massa crítica em cidades ou regiões do interior?
Verifica-se que a expansão da oferta de produtos por entidades remotas é muito mais rápida do que o alargamento do mercado de emprego para geografias distantes por recurso às tecnologias da comunicação.
A dicotomia local-remoto pode ser usada ao nível da povoação, da região, do país ou do continente desde que se adopte a flexibilidade dos critérios de acordo com o horizonte escolhido.
Numa situação de crise como aquela que vivemos hoje nem todos são afectados da mesma forma. Aqueles que perdem os seus empregos, em especial se não têm acesso ao subsídio de desemprego, são claramente os mais atingidos.
Mas se queremos evitar o aprofundamento da crise importa considerar também todos aqueles cuja actividade profissional não tem associado qualquer rendimento garantido e que dependem apenas dos nossos consumos para sobreviver.
Para esses pode ser muito importante a forma como gastamos os nossos salários e pensões.
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