Os blogers residentes e aqui e aqui fizeram referências, algumas muito críticas, ao post que eu escrevi sobre o Luís Filipe Menezes (LFM). Na altura senti a vontade de responder de imediato, e fi-lo mesmo em relação a um dos blogs, mas hoje, menos alvoraçado e depois de ler o comentário de Rui Ramos (Público de 3/10/07) e de ouvir alguns debates (SIC Notícias na terça-feira e Quadratura do Círculo na quarta), verifico que foi prudente não ter respondido de imediato. Mesmo assim gostaria de alinhavar alguns considerandos, em jeito de justificação, sobre a defesa que fiz do novo Presidente do PSD.
I - Ao Correr da pena
Como disse logo no início do meu post aquele texto era um estado de espírito. Não era uma reflexão profunda, como por vezes gosto de fazer, se é que as faço, nem pretendia que fosse uma opinião da esquerda ou de parte dela. Mas hoje, na blogosfera, textos “ao correr da pena” podem ser sempre motivo de chacota e de crítica. Parece-me que é o Pacheco Pereira que fala do tom ácido que corrói a blogosfera. Mas sobre isto já devia estar prevenido, participei durante algum tempo no fórum, aqui mesmo ao lado, e sei que facilmente se chega ao insulto pessoal.
II - O PSD ultrapassa pela esquerda o PS
Quis comparar, apesar de não lhe ter dado o relevo suficiente, as posições de LFM, que se propõe ultrapassar o PS pela esquerda, com a campanha desencadeada pelo respeitável Cavaco Silva contra o Bloco Central nos idos de 1985. Ou seja, pretendi alertar para o facto do PSD já anteriormente ter desencadeado uma campanha contra o PS, tentando encostá-lo à direita e aparecendo demagogicamente ao lado dos pobres e sacrificados deste país. Joana Lopes no seu blog seleccionou essa parte do meu texto, realçando igualmente a opinião de António Figueira, expressa no blog 5 dias que, de certo modo, vai ao encontro do que afirmo.
III - A personagem
Fui também contra a corrente que considera o LFM como um populista risível, que não deveria merecer o respeito de gente séria e daí as posições que vão desde o Mário Soares até ao Pacheco Pereira, passando pelas do Marcelo. É evidente que, segundo dizem os analistas, muitos dos barões que o desprezaram, hoje, que já lhes cheira a poder, dizem que ele não será tão mau como isso. No entanto, ainda mereceu alguns sorrisos dos comentadores encartados da SIC Notícias, como sejam o Director do Expresso, Maria João Avilez ou Ricardo Costa. A bem-pensância nacional não leva a sério que ele se proponha ir para as porta das fábricas que fecham ou prometa aumentar as pensões mais baixas dos reformados.
Rui Ramos no comentário que acima referi é bem claro sobre o que pensa de LFM. Acha que ele se atribui “a si próprio a missão de salvar este Estado Social, exterminando em Portugal a heresia do ‘capitalismo selvagem’ ” e que aquela sua célebre frase sobre os “sulistas, elitistas e liberais” é dirigida contra os “que aspiram a mais do que à mediocridade, ou preferem outro modelo social, assente na iniciativa e responsabilidade dos cidadãos”. Rui Ramos tem o condão de tornar claras as coisas complicadas, e assim pelo oposto começamos a perceber porque é que anda tanta gente irritada com LFM. Não é porque vá pôr em prática aquilo que diz, mas basta só não seguir a cartilha dominante nesta área e atrasar a chegada mirífica daquele país em que é cada um por si, para que estes comentadores de direita considerem que LFM não serve.
Já Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo, não sendo tão claro como Rui Ramos, deixa entender que LFM anda rodeado de gente sem ética, pronta a fazer qualquer coisa para chegar ao poder. E que, ao contrário de Marques Mendes, vai abrir a porta aos Isaltinos de Morais deste país. Esta discussão é mais séria. Mas devemos ter algum cuidado porque a diferença não é muito grande entre o Isaltino, que tem primos na Suíça, e o respeitável Ferreira do Amaral, que de ministro que negociou com a Lusoponte passou a Presidente do Conselho de Administração da mesma.
Por outro lado, a comparação com Santana, que se costuma fazer, não resulta. LFM pode ser demagogo e não cumprir nada do que vai fazer, mas as afirmações dele na noite em que ganhou as eleições nunca poderiam ser feitas por Santana Lopes, que sempre se apresentou como reorganizador da direita. Convêm não confundir as personagens e os seus discursos, apesar de eles poderem na aparência e talvez na prática serem semelhantes.
Rui Ramos no comentário que acima referi é bem claro sobre o que pensa de LFM. Acha que ele se atribui “a si próprio a missão de salvar este Estado Social, exterminando em Portugal a heresia do ‘capitalismo selvagem’ ” e que aquela sua célebre frase sobre os “sulistas, elitistas e liberais” é dirigida contra os “que aspiram a mais do que à mediocridade, ou preferem outro modelo social, assente na iniciativa e responsabilidade dos cidadãos”. Rui Ramos tem o condão de tornar claras as coisas complicadas, e assim pelo oposto começamos a perceber porque é que anda tanta gente irritada com LFM. Não é porque vá pôr em prática aquilo que diz, mas basta só não seguir a cartilha dominante nesta área e atrasar a chegada mirífica daquele país em que é cada um por si, para que estes comentadores de direita considerem que LFM não serve.
Já Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo, não sendo tão claro como Rui Ramos, deixa entender que LFM anda rodeado de gente sem ética, pronta a fazer qualquer coisa para chegar ao poder. E que, ao contrário de Marques Mendes, vai abrir a porta aos Isaltinos de Morais deste país. Esta discussão é mais séria. Mas devemos ter algum cuidado porque a diferença não é muito grande entre o Isaltino, que tem primos na Suíça, e o respeitável Ferreira do Amaral, que de ministro que negociou com a Lusoponte passou a Presidente do Conselho de Administração da mesma.
Por outro lado, a comparação com Santana, que se costuma fazer, não resulta. LFM pode ser demagogo e não cumprir nada do que vai fazer, mas as afirmações dele na noite em que ganhou as eleições nunca poderiam ser feitas por Santana Lopes, que sempre se apresentou como reorganizador da direita. Convêm não confundir as personagens e os seus discursos, apesar de eles poderem na aparência e talvez na prática serem semelhantes.
IV - A recomposição da esquerda
Quanto à esquerda e a derrota de Sócrates. Este parece-me ser o ponto mais controverso do meu post. É evidente que não defendo aquilo que no calão marxista, e numa tradução apressada do francês, se chama atentismo. Esperar para ver ou então, como diz a Rosa, ficar à espera que ele caia da cadeira ou que alguém lha puxe. Simplesmente penso que o discurso de LFM, que a maioria diz que não leva a parte nenhuma, dado o seu populismo e incongruência, pode muito bem servir para derrotar o Sócrates e, do meu ponto de vista, pelo menos por agora, não me parece que seja pior do que aquilo que o primeiro-ministro preconiza para o país. Por outro lado, permitirá, se for possível, uma recomposição da esquerda. Mas penso que não é este o post ideal para fazer grandes considerações sobre o papel da esquerda e da necessidade da sua recomposição, se quer vir a ser Governo algum dia.
A Rosa fala ainda da “apagada e vil tristeza a que se reduziu a esquerda tradicional”. Lamentavelmente não conheço outra e é com esta que temos que trabalhar. Porque tudo o mais são ilusões que não somos capazes de pôr em prática.
A Rosa fala ainda da “apagada e vil tristeza a que se reduziu a esquerda tradicional”. Lamentavelmente não conheço outra e é com esta que temos que trabalhar. Porque tudo o mais são ilusões que não somos capazes de pôr em prática.
2 comentários:
Eu volto à minha. Não compreendo como é que se acusa Santana de "baixo nível" e se tolera Menezes.
As peixeiradas que ele protagonizou, bem ironizadas pelo Jorge Coelho quando disse que Menezes tirou índios amazónicos da cartola, indiciam problemas de personalidade muito complicados.
A famosa frase "sulistas, elitistas e liberais" mais do que uma boutade é o afloramento instintivo de uma mente retrograda.
Menezes, por exemplo
05.10.2007, Vasco Pulido Valente
Devo dizer que fiquei mais do que surpreendido, fiquei estupefacto com eleição de Luís Filipe Menezes para a presidência do PSD. Ouvi nos dias seguintes vários peritos, que pretendiam explicar este desastre. Todos sem excepção procuravam razões no próprio PSD. Primeiro, a crença messiânica do partido num novo Sá Carneiro ou, pelo menos, num outro Cavaco, que o livrasse milagrosamente da miséria e dos vexames da oposição. Segundo, a pressa irreprimível do aparelho e das clientelas, no Estado e fora dele, de voltar ao poder. Terceiro, a "traição dos notáveis", que teriam isolado e abandonado Marques Mendes. Quarto, a suposta falta de "carisma" do dito Marques Mendes. Quinto, a pura fraude eleitoral. E sexto, a influência de Menezes sobre as "bases", largamente míticas, da seita.
Não me custa acreditar que estas razões sejam em parte pertinentes. Mas não será possível que a explicação para a vitória de Menezes esteja fora e não dentro do PSD? Comecemos pelo mais simples. É hoje óbvio que Sócrates falhou. O equilíbrio financeiro foi feito à custa do aumento da receita, que começa a pesar insuportavelmente sobre os portugueses de qualquer idade e rendimento, e não pela prometida, anunciada e glorificada reforma do Estado, que ninguém viu ou verá. A economia não cresce. O desemprego aumenta. E não se vê saída para este buraco a que nos levaram. Quem votou em Menezes não votou, no fundo, contra Sócrates? Não votou na mudança? Numa maneira, talvez não muito boa e até suicida, de agitar as coisas? Não votou por desespero?
A pergunta não é frívola, porque, se de facto o PSD não escolheu Menezes pelo duvidoso mérito de Menezes, mas por execração a Sócrates, disso decorre que Menezes provavelmente ganhará em 2009. Nada prova a tese de que o eleitorado nacional é mais lúcido e sensato do que o eleitorado do PSD. Mesmo a miserável derrota de Santana Lopes chegou no fim de uma série de sarilhos sem desculpa e da rejeição solene do Presidente da República. O dogma democrático de que "o povo não se engana" é historicamente insustentável. O "povo" do PSD já se enganou. E o povo português também se enganará, se perder por completo a confiança no regime. Se o regime se mostrar impotente, como se tem mostrado, para resolver a crise geral do país, não resiste ao primeiro "chefe" populista que lhe aparecer pela frente. A Menezes, por exemplo.
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