quarta-feira, outubro 31, 2007

SPD alemão adopta socialismo democrático para vencer o efeito da tosta mista


Congresso em Hamburgo fortaleceu veia esquerdista de sociais-democratas, que partilham poder com Merkel.

O Partido Social-Democrata alemão (SPD) aproveitou o último congresso, realizado anteontem em Hamburgo, para renovar a sua imagem: elegeu como meta a luta por um "socialismo democrático", adoptando um discurso com ingredientes tanto de esquerda como ecológicos, refere a Deutsche Welle. Tendo em vista as eleições de 2009 - e o escoamento de eleitores desiludidos para A Esquerda -, os congressistas ratificaram um programa político para substituir o antigo documento do SPD, aprovado há 18 anos, pouco antes da queda do Muro de Berlim.
Houve ainda outro sinal de mudança nas directrizes do mais antigo partido alemã: os sociais-democratas fizeram, de acordo com o Deutsche Welle, uma série de "ataques disparatados" à União Democrata Cristã (CDU), cujos membros partilham o poder em Berlim com os sociais-democratas em regime de coligação. O líder social-democrata Kurt Beck chegou mesmo a acusar o partido de Angela Merkel de esconder uma essência de "radicalismo de mercado" por detrás de "uma máscara social-democrata".
Angela Merkel recebeu com alguma irritação a nova meta do SPD. "Não precisamos de um retorno ao socialismo, como querem os sociais-democratas, já tivemos socialismo que chegue na Alemanha Oriental", afirmou a chanceler, citada pela Deutsche Welle.
A expressão "socialismo democrático" é usada "várias vezes" ao longo do novo programa partidário, um texto de 28 páginas que vem atirar o antigo para as prateleiras da antiga RDA, uma vez que o referido documento foi ultimado e aprovado pouco antes da reunificação germânica. A nova expressão no léxico social-democrata é vista como uma viragem à esquerda, mudança que analistas políticos vêem como uma estratégia para reconquistar os eleitores que migraram para A Esquerda, o novo partido no cenário político alemão.
Em entrevista à Deutsche Welle, o politólogo social-democrata Thomas Meyer não vê a fuga de militantes para novos partidos como uma ameaça democrática. "Fica só um pouco mais difícil criar um governo, mas o Estado em si não fica mais fraco", observa o cientista político da Universidade de Dortmund.
Além do desafio de formar governos viáveis através de coligações, os grandes partidos têm agora o ónus de redesenhar a sua própria identidade política à medida que vêem as suas bases esvaziarem-se. Encabeçado por Kurt Beck - um líder que não consegue sair da sombra da chanceler alemã -, o SPD parece estar a ser vítima do efeito da tosta mista: encontra-se prensado entre a CDU de Merkel (que adoptou posturas de esquerda e, ao mesmo tempo, chamou para si posturas neoliberais próprias do SPD) e A Esquerda (fundado pelo dissidente Oskar Lafontaine, ex-presidente do SPD, que repescou antigas ideias sociais-democratas).
"Espremido entre os dois, o SPD não conseguia mais afirmar as próprias posições", diagnosticou o politólogo Thomas Meyer.
Os sociais-democratas tentam agora ser eles próprios sem parecer que estão a copiar os vizinhos e, ao mesmo tempo, procuram transparecer um cariz ecológico (propostas para a redução de emissão de gases) e social (em caso de privatização da companhia ferroviária Deutsche Bahn, por exemplo, defendem que 25,1 por cento das acções sejam "do povo").
Partido liderado por Kurt Beck está entalado entre a CDU e A Esquerda, a formação fundada por Oskar Lafontaine

Público 30.10.2007, Andréia Azevedo Soares

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Contra todas as espectativas a Alemanha parece querer competir com a Itália no que toca à comicidade política. Depois da "esquerda caviar" só nos faltava agora a "esquerda tosta mista"...

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