quarta-feira, outubro 10, 2007

A besta está novamente às portas da cidade

Entretive-me nos últimos tempos a falar dos OGM, quando toda a gente já os esqueceu – Miguel Portas já está noutra, manifestando-se a favor dos simpáticos monges budistas da Birmânia – ou a passar por um aleivoso reaccionário ao defender o LFM. Os donos deste blog ou falam das Artes, com A maiúsculo, ou então afixam os comentários sempre “engraçadotes”, mas muito pouco produtivos, dos VPV ou dos MST.

E no entanto às portas da cidade vão-se acumulando os sinais de um tempo de intolerância e de exaltação reaccionária. Hoje, passados 40 anos sobre o assassinato, às ordens da CIA e do Império, de um dos mais lídimos representantes da pureza revolucionária da segunda metade do século passado e com aquela preocupação mesquinha de destruir o herói, eis que uma revista portuguesa, cujos responsáveis desconheço, pespega na capa a célebre fotografia de Che com o bigode de Hitler. No fundo a tentativa de transformar o verdadeiro “cavaleiro da esperança” da América Latina no mais ignóbil dos ditadores ou seja na personificação do mal absoluto.

Estes canalhas, que assim descem à cidade, são os filhos ou os netos dos fascistas que na Itália de Mussolini obrigavam, para lá de outras barbaridades, os seus opositores a beber óleo de rícino, ou nas ruas de Berlim partiam as montras aos comerciantes judeus ou que em Portugal obrigavam o seus opositores a gritar “quem manda?” Salazar, Salazar, Salazar! Recuperam com a capa de novos liberais e de democratas, as velhas provocações fascistas. E nós os liberais, de velha cepa, e democratas assistimos impávidos e serenos ao crescer deste velho-novo fascismo que presentemente, com a cumplicidade de alguma esquerda bem comportada, se prepara para tomar de assalto órgãos de informação, impondo em todo o lado escriturários prontos a pôr a sua pena ao serviço das opiniões mais reaccionárias. E é vê-los no Público, mas proliferando noutros meios de comunicação e enxameando a blogosfera.
Hoje por muito que andemos entretidos com as nossas pequenas discussões, não podemos deixar que esta nova besta nos entre pela porta principal, e que retome sob diversas formas e disfarces a mesma preocupação de sempre, destruir em nós qualquer esperança na possibilidade de transformar o mundo para melhor.

5 comentários:

F. Penim Redondo disse...

Caro Jorge,

os comentários sempre “engraçadotes”, mas muito pouco produtivos, dos VPV ou dos MST

ajudam a perceber porque é que

"A besta está novamente à porta da cidade"

Anónimo disse...

Para além da qualidade de mito, que reune o acordo da generalidade das opniões, Guevara foi/é também um símbolo: de fraternidade, de liberdade, de generosidade, de justiça, e nem a via maliciosa da desvalorização de "românticos", me parece que diminua em valor o que quer que seja a estes atributos.

São eles - e não o símbolo em si mesmo - que se encontram sob a mira de pelo menos certos sectores. Subscrevo pois o que me parecem ser as preocupações maiores e o essencial do espírito do post. Essas são as razões porque não sou "pacifista" nem assinei ainda qualquer armistício.

Dito isto, e porque continuo a subscrever também a velha máxima de que "só a verdade é revolucionária", não me parece que devam ser negados ou escondidos os aspectos menos ou mesmo nada nobres da pessoa de Ernesto Guevara.

Anónimo disse...

Comparar Che Guevara com Hitler, só pode vir de mentes neo-fascistas. Na verdade é preciso estar muito atento e não deixar de alertar os distraídos.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

É evidente que não está em causa a discussão das ideias de Che, dos erros que poderia ter cometido. da defesa que fez do foquismo, outro calão marxista. Coisa que não interessa aos autores da caricatura. Esta não passa de uma ordinária e afascistada provocação política

joao disse...

finalmente podemos agora saber quem são.
O jogo assim é mais claro.
è facil ser fascista no anonimato