domingo, abril 17, 2011

Os estranhos finlandeses



A crise económica finlandesa dos anos 90 foi muito severa. O decréscimo do PIB real entre 90-93 foi cerca de 14 %, quatro vezes superior ao do colapso da Grande Depressão dos anos 30. A taxa de desemprego subiu de 3% em 1990 para quase 20% no início de 1994. A depressão provocou, por vários anos, uma baixa considerável do nível de vida dos finlandeses, conduzindo à falência de empresas e a uma crise bancária de larga escala, tendo por fim criado graves problemas às finanças públicas, pondo mesmo em causa o Estado-Providência finlandês.
Sem ajuda externa a Finlândia adoptou estritos rigores orçamentais baseados em acordos entre as forças políticas e sociais e acabou por sair da crise.

Em 2011 há quem, em Portugal, estranhe a renitência dos finlandeses em aprovar a "ajuda" externa a Portugal. Até houve quem fosse desenterrar um envio de cobertores, feito por Salazar, por anti-comunismo, durante a guerra russo-finlandesa em 1939-40, para reclamar agora a compensação.

Para um finlandês deve ser difícil compreender, e aceitar, a nossa maneira de reagir perante as dificuldades.
Em vez de querermos os sacrifícios necessários à mais rápida saída da crise toda a nossa discussão é acerca de como evitar qualquer sacrifício, como se a crise se esfumasse por milagre.
Os nossos partidos em vez de explicarem a inevitabilidade dos sacrifícios e as recompensas que teremos depois de os fazer, só se preocupam em sacudir a água do capote, insinuando que os sacrifícios são uma cabala, evitável, cuja culpa não lhes cabe.
Especialistas em fugir com o rabo à seringa preparam-se para transformar uma doença aguda, curável se tratada em tempo, numa doença crónica com que teremos que viver até ao fim dos nossos dias.

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1 comentário:

J Eduardo Brissos disse...

E como é que foram repartidos os "sacrifícios" na Finlândia? Qual era o nível de desigualdade antes e depois da crise?

Talvez se os finlandeses soubessem que o problema por cá é, num país dos mais atrasados e desiguais da Europa, quererem impor os sacrifícios apenas aos que menos têm talvez percebessem.