O que tantos tanto receavam aconteceu.
Apesar de o tempo não ser adequado para idas à praia a abstenção disparou nas eleições para a Câmara de Lisboa.
Já tinha dito que isso se deveria às pobríssimas ideias da campanha mas, depois de ver os resultados, vou ainda mais longe: os eleitores estão a deixar de votar porque sentem que não vale a pena. Vou explicar.
Há dois anos houve 119.837 cidadãos de Lisboa que votaram em Carmona Rodrigues. Tente-se imaginar o que essas pessoas devem sentir quando vêem a sua escolha arrastada pela lama mediática como um banana corrupto.
Por um lado podem pensar que tudo não passa de suspeições que nenhum tribunal validou ainda mas isso não resolve a angústia dessas pessoas. Das duas uma:
1) ou Carmona é realmente um banana corrupto e então os seus votantes ficam desmoralizados e consideram-se indignos de votar agora noutro candidato que pode vir a revelar-se igualmente mau
2) ou Carmona afinal não é um banana corrupto e então os seus votantes devem concluir que há nesta democracia mecanismos perversos que conseguem sobrepor-se e anular, "na secretaria",uma votação democrática
Esta pode ser a explicação para o facto de as forças de direita (Carmona+PSD+CDS), no seu conjunto, terem perdido 65.713 votos para a abstenção em comparação com 2005.
Mas então como se explica que as forças de esquerda (Roseta+PS+PCP+BE) tenham também perdido, no seu conjunto, 19.676 votos ? O PCP e o BE reduzem mesmo as suas percentagens de 11,42 para 9,53 %, no primeiro caso, e de 7,91 para 6,81 % no segundo.
Talvez os cidadãos não simpatizem especialmente com uma política baseada na denúncia. Mesmo que reconheçam a pertinência das denúncias pressentem que as denúncias, quando a justiça não as confirma em tempo útil, podem transformar-se numa arma perigosíssima para a democracia.
António Costa, ou a sua lista, ainda não tinham sido eleitos e já eram acusados de "interesses nos terrenos do aeroporto", "projectos ocultos na zona ribeirinha", "pacto secreto com Carmona", etc, etc. Onde é que isto nos leva ?
Já tenho dito e repito: há comportamentos na nossa vida política que estão a arrastar a democracia para o abismo. Talvez o mais grave seja a incapacidade para aceitar os resultados das eleições quando quem ganha é o adversário.
Cada vez mais constatamos que os eleitos, mal tomam posse, são imediatamente sujeitos a tratos de polé e, se não se cuidam, destruídos mesmo ao nível da sua vida privada, escolar ou profissional.
De forma falaciosa apresenta-se a intolerância e o espírito anti-democrático como se fossem apenas as normais, e democráticas, diferenças de opinião e de proposta.
O principal problema de Lisboa está, como antes estava, nesta perversão da democracia.
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O TEMA DA MINHA PEÇA JÁ CONTA COM UM ALERTA
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ATÉ PARECE QUE ESTE VÍDEO
FOI CONSTRUÍDO
PARA DEIXAR A MENSAGEM FINAL
À MINHA OBRA TEATRAL
*Ora vejam... aonde foram parar a família, a escola, os amigo...
Há 6 horas
2 comentários:
Sr. Penin Redi�ondo:
Desculpe mas a ligeireza com que repetudamente fala da �perda de votos� dos partidos em Lisboa faz com que fique abrangido por este post de V�tor Dias no �tempo dascerejas
Um pouco mais de rigor, s.f.f.
Custa sempre ver pessoas inteligentes e com responsabilidades na vida p�blica debitarem barbaridades, usarem duplos crit�rios ou mandarem o rigor �s urtigas. Embora sabendo que, antes dele, muitos jornalistas ou comentadores j� o fizeram (e at� acabo de ouvir a deputada Ana Drago a faz�-lo contra o PS no debate na AR), n�o posso deixar passar em claro que, na sua cr�nica sobre as elei�es em Lisboa publicada na Vis�o de ontem, Ant�nio Mega Ferreira tenha resolvido desafiar Jer�nimo de Sousa a explicar �por que raz�o a CDU perdeu quase metade dos votos e dois pontos percentuais em rela�o �s aut�rquicas de 2005� [sublinhado meu].
A verdade � que Mega Ferreira (e todos os outros, sejam de que quadrante pol�tico-partid�rio forem) tinha obriga�o de saber que, politicamente, n�o se pode considerar �perda de votos� aquela que resulta de um significativo aumento da absten�o que, inevitavelmente e em regra geral, provoca sempre uma diminui�o no n�mero de votos recebido por cada for�a pol�tica, s� escapando a esta sorte quem n�o tiver concorrido �s anteriores elei�es.
Como deveria ser evidente, a compara�o de votos obtidos s� tem relev�ncia pol�tica e fundamento num�rico quando se comparam duas elei�es sucessivas com um similar n�vel de absten�o. Ora, n�o foi nada o caso das intercalares de Lisboa de passado domingo, em que a percentagem de votantes desceu de 52,65% em 2005 para 37,39% no passado domingo, com as suas inevit�veis consequ�ncias de redu�o, em grau vari�vel, do n�mero de votos recebidos por todos os partidos.
(..)
Se o Vitor Dias quer fazer como os avestruzes, como parece que faz há muitos anos, é lá com ele.
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