.
É grande a expectativa que rodeia a ida do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, ao Parlamento, no dia 11, para falar do tema que, nos últimos dias, está nas bocas de toda a gente: o BPN. Será esse o dia em que se vai saber quanto vai custar o banco aos contribuintes? E as razões pelas quais o Estado não o conseguiu vender? E a solução para resolver este problema?
Até agora o que se sabe é que as Finanças continuam a analisar o reforço de capital na ordem dos €500 milhões pedido pela atual administração do banco, presidida por Francisco Bandeira, também vice-presidente da CGD, para manter o banco no mercado, sem ativos tóxicos. Mas a polémica em torno das injeções do Estado, num banco tecnicamente falido e cuja gestão antes da nacionalização foi considerada ruinosa, deu azo a colocar-se uma nova questão: o que fez a atual gestão do BPN, liderada por três administradores da CGD? O debate presidencial trincou a maçã proibida e os canhões não param de disparar em diversas direções. Mesmo mantendo-se na esfera pública, o BPN continua a perder depositantes e não se assistiu a melhorias na recuperação de crédito vencido. Nos últimos 15 dias o BPN perdeu €200 milhões em depósitos, baixando o nível de recursos para €2900 milhões. A carteira de crédito é pesada — da ordem dos €7000 milhões, dos quais cerca de pelo menos metade é considerada tóxica. Com 1700 colaboradores, 220 agências e tecnicamente falido, o banco tem uma insuficiência de capital na ordem dos €2,2 mil milhões, provisões para imparidades de cerca de €1,8 mil milhões, apesar de algumas melhorias em termos de resultados.
Hoje sabe-se apenas que já estão criadas as três sociedades-veículos anunciadas para receber os ativos ‘tóxicos’ e tornar o BPN mais apetecível a eventuais compradores.
Só o crédito malparado acomodado num dos veículos ascende a €2,5 mil milhões. A gestão destes será feita por quatro administradores do BPN — Lourenço Soares, Rui Pedras, Jorge Pessoa e Mário Gaspar. As contas do BPN em 2010 ainda vão refletir a consolidação destes ativos, pelo que o buraco continua, embora o apoio da CGD através dos financiamentos com aval do Estado tenha sido transferido para os veículos, como decorria da lei do Orçamento do Estado para 2010, que pressupunha a venda do banco. Na prática a situação não se altera substancialmente: as imparidades permanecem na esfera do Estado.
Tratou-se de uma operação de “movimentos escriturais”, ou seja, “não houve dinheiro a rolar”, referiu uma fonte próxima da operação. Os veículos emitiram obrigações no valor de €3,9 mil milhões com garantia do Estado, que a CGD tomou. Através desta operação, parte do financiamento da CGD ao BPN foi pago sendo agora os veículos os devedores.
O financiamento remanescente que a CGD concedeu ao BPN com aval do Estado permanecerá no BPN. A saída dos veículos libertará o banco das elevadas provisões para imparidades, sendo necessária uma injeção de €500 milhões para que funcione autonomamente. Será mesmo essa a solução?
Expresso 08.01.2011
Isto cheira ou não cheira a trafulhice?
Tanto palavreado contra os banqueiros irresponsáveis que lançaram o mundo na crise e agora é o próprio Estado a jogar com os famosos "veículos" que transportam os não menos famosos "activos tóxicos".
A única diferença é que os banqueiros impingiram os "activos tóxicos" aos otários enquanto o Estado português parece querer reservá-los para si, ou seja, para nós.
Então o crédito malparado que "ascende a €2,5 mil milhões" está a débito de quem? quem é que se apropriou dessa massa toda? não se exige o pagamento a quem ficou com esse dinheiro?
Estes "veículos" faz-de-conta, puxados por burros que somos nós, hão-de levar-nos longe.
.
2 comentários:
"não se exige o pagamento a quem ficou com esse dinheiro?"
Parece que não, pelo menos (quase) ninguém fala nisso:
Cavaco, Madoff, o sr. Picower e a viúva dele.
QUEM FICOU COM ELE (OU O PÔS A BOM RECATO)ATÉ AFIRMA QUE ESTÁ NA PENÚRIA.
Enviar um comentário