segunda-feira, janeiro 24, 2011

O tamanho conta?

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Paulo Portas com a sua habitual ratice, apressou-se na noite eleitoral a declarar a derrota do «embrião de aliança entre PS e BE que se manifestou nestas eleições».
À natural satisfação de Portas deve portanto corresponder uma reflexão de esquerda, para acabar com esta deriva irresponsável da esquerda que avança de derrota em derrota.
A candidatura de Alegre surgiu para concretizar a “esquerda grande” de que falava Louçã na Convenção do BE em Fevereiro de 2009.
A “esquerda grande” não é uma ideia muito original, sucede à “maioria de  esquerda” que foi, sem qualquer sucesso, consigna do PCP durante muitos anos.
Pode perguntar-se, como faz certa publicidade, se no ponto a que a esquerda chegou o tamanho realmente conta. Mas o que mais confrange nesta estratégia é a constatação do primarismo com que os dirigentes do BE pensaram que seria possível somar os dez por cento próprios com os trinta e cinco do PS.
Sem qualquer novo projecto para o país com que embalar o produto, acharam que Alegre bastaria como isco. Os resultados estão à vista.
O PS podia ter tido a clarividência de apoiar Cavaco na reeleição, como fez o PSD no segundo mandato de Mário Soares. Mas atemorizado pela chantagem do BE, enfraquecido depois da crise internacional ter mostrado o monstro que se oculta por trás do laborioso cenário, o PS deixou-se arrastar pelos cabelos para esta aventura.
Quando o desastre se tornou evidente optou por uma política de terra queimada, ineficaz e repugnante.
Nesta batalha, que a esquerda irresponsável travou nas piores condições estratégicas, foram usados os estafados estandartes do “estado social”, do “serviço nacional de saúde” e da “defesa da escola pública”. Por isso, ao sofrer uma pesada derrota, de uma penada, descredibilizaram a ideia da unidade de esquerda e gastaram as principais munições com que têm tentado defender-se do avanço do liberalismo económico.  
Estes estandartes, que Alegre enunciou significativamente no seu discurso de derrotado, constituem o principal equívoco em que a esquerda mergulhou nos últimos anos.
Chega a ser confrangedora a inconsciência com que esta gente abandonou qualquer veleidade de transformar o mundo.
É que o SNS não é um projecto de futuro, é antes o sinal de uma sociedade de escassez e de pobreza da qual nos devíamos estar a libertar.
A saúde é essencial? Claro que é. Mas a alimentação não o é menos e o Estado não a fornece de forma universal. Cada cidadão tem que encontrar os meios para satisfazer essa necessidade. Não passa pela cabeça a ninguém acabar com os restaurantes e propor que passemos todos a frequentar a cantina da Misercórdia.
A esquerda refugiou-se nas trincheiras do “estado social” que é um monstro de duas faces. De um lado sorri as benesses para os desvalidos e do outro mostra a carranca da burocracia e do endividamento.
Incapaz de entender o mundo actual e de enunciar respostas de novo tipo para fazer corresponder as relações sociais de produção ao avanço tecnológico, com estes dirigentes e com esta inépcia a esquerda caminhará, de aventura radical em aventura radical, até escancarar as portas a um fascismo do século XXI.
Por isso precisávamos não de uma “esquerda grande” mas de uma esquerda clarividente que, mesmo quando não ganhasse no presente, estivesse a construir um futuro. Com uma nova utopia.
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2 comentários:

Anónimo disse...

Oh Fernando

Persiste a deriva mas, como já disse anteriormente, ela não está do lado do PCP, embora me pareça que não partilhas esta minha certeza.

Saudações

João Pedro

F. Penim Redondo disse...

João Pedro,
ao menos o PCP não embarca em certos folclores. Valha-nos isso.