Podem acusar-me de feminismo. Apesar disso, a ideia de ver Don Giovanni punido pelas mulheres a quem seduzira, através da negação da sua imagem de sedutor e da destruição do famoso catálogo de conquistas, agradou-me muito!
A punição, não pelo fogo moralizador dos infernos mas pela sua redução à qualidade de homem vulgar (enfim, abaixo de vulgar, ao que parece...)seria um refazer do drama, mais consonante com os nossos dias e que Saramago apresenta agradàvelmente ácido e sarcástico.
Digo "seria" porque para mim Saramago estragou tudo ao redimi-lo pelo amor da criada Zerlina. Fugiu-lhe o pé (ou melhor, a caneta) para o politicamente correcto: Don Giovanni caiu para o lado dos desfavorecidos e portanto passa a merecer de nós a salvação, que lhe é concedida por um elemento da classe trabalhadora....
O Dissoluto não é afinal absolvido: é salvo!!!!
O Dissoluto Absolvido, ópera em 1 acto de Azio Corghi sobre libreto de José Saramago, tem a ultima representação no São Carlos, dia 26 de Março.
"Cancelamentos culturais" na América (2)
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