segunda-feira, abril 12, 2010

Entrou com o pé direito

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Passos Coelho fez, no encerramento do Congresso do PSD, um discurso surpreendentemente hábil. Colocou a revisão constitucional no centro do debate o que vem ao encontro do sentimento generalizado de que o regime se encontra num impasse.
Bem poderá Sócrates minimizar a proposta e tentar recusar-lhe o indispensável apoio parlamentar. Quanto mais a revisão fôr contestada e adiada mais ela aparecerá aos olhos dos portugueses como a panaceia que talvez nem seja.
Ao posicionar-se desta forma o novo presidente do PSD transmite também a ideia de que é algo de fundamental que tem que ser mudado e não uma cosmética de conveniência. É daquelas propostas que não precisam de ser aceites pelos adversários e que talvez até sejam mais frutuosas quando os adversários as recusam.
Se juntarmos a isto as referências à necessidade de controle democrático das nomeações para altos cargos na Administração e nas Empresas Públicas, feitas por Passos Coelho, então podemos ter a certeza de que à partida escolheu o terreno mais favorável para a batalha que pretende travar.

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10 comentários:

Vitor M. Trigo disse...

PPC não é idiota. É um robot cuidadosamente concebido.
Está há anos a preparar-se (ou a deixar-se preparar) para a tomada do poder. No fundo, um político que não luta pelo poder, fará o quê?
Nem me surpreendeu o seu discurso – Ideias? Compromissos? Se lá estavam, encontravam-se bem camufladas.
Ângelo Correia sabe o que faz e é um estratega, ie, visa o longo prazo. Repare-se como PPC referiu, de forma bem sonante, que não tinha pressa.
A primeira grande causa, a revisão da Constituição, é para perder. Melhor, é uma Cavalo de Tróia, com a enorme vantagem de permitir ganhar tempo e fôlego.
Uma medida me chamou a atenção – manter PR e AB sob controlo. Não é brilhante, mas é eficaz.
De resto, estamos cá para ver quem se revelará mais vaidoso e prepotente – PPC ou JS?
Eu não revelo em quem aposto. Mas está à vista, não está?
Entrou com o pé direito? Claro, até acho quem ele não tem pé esquerdo...
Uma dúvida – como evitará PP ser ultrapassado em demagogia?

F. Penim Redondo disse...

"PPC não é idiota. É um robot cuidadosamente concebido".

Caro Vitor, acho que te contradizes pois qualquer robot é mais burro que qualquer idiota humano.

Acho que em política, como na vida, devemos tentar sempre distinguir bem os nossos desejos dos factos. Menosprezar os adversários não os torna mais pequenos a eles mas diminui a nossa capacidade de resposta contra eles.

Vitor M. Trigo disse...

Fernando, creio que não percebeste o que quiz dizer. Até ver, PPC parece-me algo cuidadosamente preparado para respostas standardizadas a uma multiplicidade de situações para que foi programado. Foi por issso que utilizei a figura do robot.
Não o estou a menosprezar, antes a colocá-lo no silo que me parece mais conveniente. Por exemplo comparando a sua demagogia com PP e evitando a comparação com FL. A figura de Louçã parece-me mais clerical do que propriamente demagógica.
Ficou mais claro, agora?

F. Penim Redondo disse...

Vitor,

acabaste por não dizer se concordavas com as razões que me levam a considerar que PPC entrou com o pé direito pois enveredaste logo pelos julgamentos de carácter e de intenções.

Quer se queira quer não a política é um jogo de espelhos mediáticos.

Os políticos vêm, cansam e são substituídos (como Mário Soares, Cavaco, Guterres, etc).
Às vezes regressam uns anos mais tarde.

Neste tipo de ciclo, independentemente de outras avaliações, parece-me que Sócrates já tem o seu substituto na calha.
Desta vez o contendor, no dizer das senhoras, nem lhe fica atrás em charme.

Onde Sócrates era acutilante PPC é sistémico, onde Sócrates era agressivo PPC é calmo e cordial.

Mas no final do dia o que vai contar essencialmente é que as pessoas vão querer experimentar um novo primeiro ministro para, pelo menos por algum tempo, terem alguma esperança.

Vitor M. Trigo disse...

Se bem entendi, então:
PPC pode ser um farsante, um joguete nas mãos de outros, um demagogo, um qualquer ultra-liberal da linha mais à direita do PSD (incluindo a tendência, se é que ela exite, de Rangel).
Nem ACS se identifica com ele, a acreditar nos mentideros, por questões sociais.
O País, para mim, não é uma mesa de poquer. E as cartas deste baralho afiguram-se-me muito perigosas.
Bom, mas haja alguém que acredite.
Depois virão as desculpas do costume - foi da conjuntura... e da ajuda dos bloquistas.

F. Penim Redondo disse...

Vitor,

se pensas que os meus comentários representam qualquer tipo de apoio ao PPC estás muito enganado.
A verdade é que eu já não funciono por rótulos há muito tempo, na maior parte das vezes os rótulos estão errados.
O Benfica-Sporting do futebol é logo à noite mas, na política, é quase todos os dias. Já não tenho paciência para as claques organizadas e acho que o zé povinho também já está a ficar farto.
O panorama existente na política portuguesa actual deprime-me. Por isso raramente voto.

Vitor M. Trigo disse...

De facto não pensei que estivesses a apoiar PPC, Fernando.
Não é que ache que se o estivesses a fazer não fosse um direito.
Conhecemo-nos há muitos anos e se te visse a apoiar um representante da direita mais liberal, ficaria realmente muito surpreendido, embora, de quando em vez, assista a cada cambalhota que me deixa incrédulo.
Como fico espantado ao ver amigos bloquistas (tenho alguns, não muitos...), verem em PPC "alguém que pode ser usado para derrubar o governo (e talvez criar um novo terreno de luta onde sobre espaço para nós"). É pragmatismo a mais para mim.
Mas, com toda a sinceridade e amizade, vi no teu artigo e respostas aos meus comentários, uma condescendência e compreensão pelas demagógicas e vagas propostas de PPC, que me surpreenderam.
Não faço juízos, muito menos, ataque de carácter sobre os políticos, como dizes. Mas não ignoro as suas ideias. E não estou a falar de rótulos, como referes. Trata-se de valores e esses não mudam conjunturalmente ou por acção duma qualquer campanha mediática de imagem. Ou moda de alguma intelectualite auto-convencida que abunda por aqui.
É isso que está por detrás do que disse – estou farto de charlatães que usam todo o tipo de truques para iludir os portugueses e usá-los a seu belo prazer. Incluo nestes palradores grande parte dos jornalistas actuais.
Triste sociedade que pariu estes bem-falantes.

Rogério G.V. Pereira disse...

Penim, acredita no Cisne Negro?

http://conversavinagrada.blogspot.com/2010/04/trindades-de-fe-e-outras.html

F. Penim Redondo disse...

Vitor,

esta amena cavaqueira pode estar a prolongar-se anormalmente mas permite-me clarificar as minhas opiniões actuais, que por vezes fazem confusão a certas pessoas.

Eu propunha há tempos que o sistema eleitoral fosse modificado para que cada eleitor pudesse votar em mais do que um partido. Eu acho que a participação eleitoral subiria pois há realmente poucas pessoas que se sintam identificadas com um único partido.
Este exemplo vem a propósito para explicar que eu simpatizo com a ideia de uma transformação profunda do nosso sistema político (que não será provavelmente aquela que anuncia o PPC). Estou convencido que se essa transformação não for feita o regime acabará a médio prazo, eventualmente transformado numa variante ditatorial qualquer.

Quanto aos partidos de esquerda, o campo em que sempre me inseri, estou bastante desiludido.

O PS é o que se sabe.

Os outros partidos abdicaram de prespectivar uma sociedade de novo tipo e limitam-se a tentar capitalizar votos através de acções de protesto, apoiando tudo o que mexe quer seja justo quer não seja. Se algum dia chegassem a ter a maioria ninguém consegue perceber o que fariam.

Rogério G.V. Pereira disse...

As desilusões, caro Penim, tem quase sempre dois sentidos: De si para a esquerda; de mim para si.

Nada que o futuro não resolva...