quinta-feira, junho 12, 2008

O mundo real e as estatísticas



Um dia destes, a propósito da nossa dependência do petróleo, vi num jornal uma referência ao estudo do EUROSTAT, feito em 2006, que colocava Portugal entre os países da Europa com mais automóveis por cada mil habitantes.
"Portugal está no pelotão da frente dos países da União Europeia (UE) com mais automóveis por habitante, revelou hoje um relatório do Eurostat."
"Em 2004 existiam, em média, 472 carros por mil habitantes na UE25"
"O país com mais automóveis por habitante é o Luxemburgo (659), seguido da Itália (581) e depois por Portugal, com os seus 572 carros".
Fiquei imediatamente com a sensação de que tal estatística estava errada pois contraria as mais elementares regras da razoabilidade. Os automóveis custam muito dinheiro e Portugal não é própriamente um dos países mais ricos da Europa.
Ontem tropecei no que parece ser a explicação para o absurdo. O Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT) cancelou num mês mais de 900 mil matrículas de carros destruídos ou desmantelados antes de 2000 e que não foram inspeccionados nos últimos cinco anos, avança a Lusa. Ou seja havia nas estatísticas 943.000 carros que afinal já não existiam.
Feita esta correcção às estatísticas portuguesas o nosso país passa a ter 477 automóveis por mil habitantes, perto da média europeia, e não os estrondosos 572 anunciados pelo EUROSTAT.
Vem isto a propósito da utilização imponderada de números e estatísticas tão em voga no nosso país. Especialmente quando os números vêm do estrangeiro, sob uma capa de isenção e seriedade, tende-se a esquecer que esses números podem ter partido das estatísticas nacionais que estão em estado calamitoso.
Ainda recentemente, a propósito da pobreza em Portugal, os estudos que estiveram na origem dos discursos inflamados de Mário Soares e Manuel Alegre foram sujeitos a críticas por neles terem sido detectadas uma série de incongruências.
Esta minha desconfiança em relação às estatísticas não significa que os carros em Portugal não sejam excessivos e que a pobreza não seja um fenómeno relevante e preocupante. Significa apenas que devemos ser rigorosos se queremos ser eficazes, que não se ganha nada em deturpar a realidade. Por isso vou continuar a lê-las de forma crítica, sempre tentando matizá-las com a minha experiência de vida em sociedade.

P.S. Já depois de ter publicado isto verifiquei que Vital Moreira, no CAUSA NOSSA, parece estar convencido da bondade dos números do EUROSTAT.

Sem comentários: