Não se passaram mais do que 24 horas sobre a minha resposta ao Vítor Dia garantindo-lhe que não alimentaria mais troca de palavras azedas entre os dois, quando vi o seu post sobre alguma desinformação que reinava na comunicação social a propósito da participação do PCP na tal festa-sessão do Trindade.
Isto porque eu próprio denunciei uma desinformação deliberada, porque foi repetida diversas vezes, promovida pela SIC Notícias e que não é referida pelo nosso bloguista. Provavelmente, não era esse o objectivo do seu artigo, mas era bom que de vez enquanto também se preocupasse com ela. Outra, num estilo que está a ser característico do Avante, encontra-se no artigo Ai que Alegria , de Anabela Fino, que denuncia com um sectarismo, invencionice e desinformação arrepiante a tal festa-sessão. Reconheço que não é esse o estilo do Victor Dias, mas não lhe ficaria mal, que de quando em vez também criticasse os seus amigos do Avante que escrevem prosa como aquela que referi.
Mas não é só por isto que volto ao comentário do Vítor Dias. Reconheço que citei a despropósito uma pessoa já falecida que não pode confirmar aquilo que me disse, nem defender-se dos ataques do Vítor Dias. Por esse motivo e em sua memória, lamento os inconvenientes daquela referência, que servia de justificação, para quem leu o meu texto , de ter passado a chamar Vítor Dias a todo os intervenientes no fórum, que vinham com prosas antigas de alguns renovadores.
Quanto, aos casos das declarações de Manuel Alegre ao Expresso, em 1996, e da votação do BE na Assembleia Municipal, são formas de ataque político de que eu discordo. Algumas chegam mesmo a ser de carácter, outras de desinformação política, como é o caso da referência constante à votação sobre a Bragaparques pelo BE, que mais não visa do que acusar o BE de estar a reboque dos interesses capitalistas. E quando na página da ORL do PCP se relatam “factos contra a política de direita na gestão PS/BE da Câmara de Lisboa” está-se mais uma vez em pleno desvario sectário e esquerdizante do PCP, de que nunca o Victor Dias se demarcou, que eu saiba.
Quanto às referências à veia estalinista de cada um de nós é preferível ficarmos por aqui, porque senão corremos o mesmo risco que atacou a discussão entre José Sócrates e Francisco Louçã. Ou seja, José Sócrates já sabendo que Manuel Alegre ia participar numa sessão-festa com Louçã , atiçou este, chamando-lhe mentiroso e covarde. Já se sabe que Louçã caiu na esparrela e respondeu-lhe no mesmo tom. Daí para a frente foi fácil passar a dizer que Manuel Alegre participava numa sessão ao lado de um inimigo do PS. Por isso, para não cairmos no mesmo mal, retiro o que lhe chamei, até porque as opiniões expressas no seu blog, no seu conjunto, não podem levar a esse epíteto.
Mas não gostaria de terminar sem um pouco de discussão política. Acaba o seu comentário com esta afirmação: “Inebriem-se JNF, o BE etc. quanto quiserem com Manuel Alegre. E depois, na próxima campanha eleitoral para as legislativas, quando ele voltar a fazer o papel que sempre tem feito nas campanhas eleitorais para o Parlamento - que é o ser a luva de esquerda para a mão de direita do PS - não se queixem nem se admirem.”
Só lhe gostaria de perguntar, num tempo em que as posições do PCP eram mais sérias e menos sectárias, o que foi que nós andámos a fazer com Ramalho Enes e o seu PRD? Nessa altura e bem considerou-se que havia um espaço entre o PS e o PCP que devia ser preenchido por um partido com as características do PRD. Não nos importámos de poder perder não sei quantos por cento de votos a favor dele e depois foi o que se viu, transferência directa para o PSD, de Cavaco Silva. São os riscos da unidade e da necessidade da reorganização das forças partidárias à esquerda do PS de Sócrates. Por isso não sejamos tão taxativos com aquilo que dizemos a propósito de Manuel Alegre. Já o vi ser muito bem recebido na Festa do Avante.
PS.: já o post ia a meio, quando vi o seu último comentário, daí ter introduzido algumas respostas que não pensava dar-lhe.
A imagem que acompanha o texto refere-se ao nome do Blog do Vítor Dias o Tempo das Cerejas.
Este texto foi publicado igualmente em http://trix-nitrix.blogspot.com/
3 comentários:
Respondo ao último «post» de JNF apenas nos termos mínimos que me parecem indispensáveis.Assim:
1. No geral, a resposta de JNF contorna as minhas principais afirmações e ocupa-se a apelar a que eu critique textos assinados por camaradas meus.Eu escrevo o que escrevo e assino e outros escrevem o que escrevem e assinam e una outros somos responsáveis pelo que escrevemso. Fora isto, o que sobra como dever comum de comunistas de respeito ou não-hostilização são as decisões e comunicados dos orgãos colegiais dirigentes do PCP que muito raramente vejo criticados.
2. Pelas referências ao PRD, até mais do que eu pensava, parece que afinal JNF e outros congeminarão mudanças no quadro partidário
português quando eu pensava que até aqui a grande pergunta era saber quem vai aproveitar mais de certos contactos ou iniciativas em curso: se O BE, como unica força estável e minimamente estruturada se o PS quando Alegre- como eu prevejo, a não ser que o ponham fora - voltar a ser a cereja de esquerda da camapnha eleitoral legislativa de José Sócrates.
3. A referência que Manuel Alegre foi muito bem recebido na Festa do Avante ilustra que JNF vê tudo o que escrevi ou que outros comunistas escrevem como sendo da esfera do ataque pessoal ou da embirração pessoal quando evidentemente se trata de apreciações políticas que estão longe de ser incompatíveis não só com uma grande cordialidade de relacionamentoscomo coma leal participação em iniciativas comuns (como foi o caso da gigantesca manifestação contra a iminente agressão ao Iraque em que na fila da frente lá estavam, de braço dado, Carlos Carvalhas. M. L. Pintasilgo e Mário Soares.
4.Por fim, ainda sobre o BE e caso Bragaparques, registo que aos quesitos concretos que eu levantei JNF disse nada. Mas tenho uma proposta a fazer a JNF (se o Fernando Penim Redondo - meu companheiro em Caxias nas vésperas do 25 de Abril - não se opuser). A acta dessa Assembleia Municipal em que foi votada favoravelmente a deliberação que legalizou negócio está disponivel em PDF no site da Assembleia Municipal. Portanto basta JNF publicar aqui no dotecome a imagem recortada da parte referente à DELIBERAÇAO tomada pela AM com o voto favoravel do BE e a parte respeitante à RESOLUÇÂO proposta pelo Bloco e também aprovada, mas de infima eficácia comparada com a citada deliberação.
Tal como você não está interessado em criticar os seus camaradas do Avante também eu não estou interessado em alimentar a sua campanha contra o BE, como força política participante na coligação que dirige a Câmara Municipal de Lisboa.
Quanto à questão PRD e Manuel Alegre. Sejamos claros. Sempre o PCP sonhou com a possibilidade de partir o PS ao meio. Na altura foi dito, mesmo que informalmente, que era muito mais viável negociar a unidade com o PS com um valor eleitoral quase igual ao do PCP do que com um PS forte e um PCP fraco. Pensava-se ser possível, na altura, juntar o PRD a esta coligação com vista à formação de um Governo. Facto que esteve quase a acontecer, se não fosse a oposição do Mário Soares. Ora candidatura de Alegre às eleições presidenciais, a criação do MIC e agora esta participação na festa-sessão poderão ser o prenúncio dessa sempre ambicionada divisão do PS.É um caminho possível de unidade para a esquerda. Esta era a ambição do PCP numa determinada altura. Hoje, o PCP de Jerónimo já não pensa assim. Paciência.
Por outro lado estas operações poderão sempre sair furadas, como saiu a do PRD. Mas parafraseando o editorial do Avante de hoje: «Quando se luta nem sempre se ganha, mas quando não se luta perde-se sempre».
Quanto ao Manuel Alegre ser bem recebido na Festa do Avante, eu não me referi a isto como uma questão de ataque pessoal à personagem, mas como em determinadas conjunturas, que não me lembro qual era a da altura, é preciso aproximarmo-nos politicamente de certas individualidades. O caso que cita, por acaso, passou-se ainda no tempo do Carvalhas, duvido que hoje fosse possível. Por aquilo que presenciei o ano passado na manifestação do 25 de Abril, concluo que presentemente se torna muito difícil fazer qualquer coisa em conjunto com o PCP.
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