sábado, dezembro 17, 2011

A Ilusão da Vontade Política



Viver normalmente é viver como já se viveu, como sempre se viveu. Sem riscos, sem incertezas. Porque é que não podemos viver assim? Donde vem esta nossa vulnerabilidade aos acontecimentos? Para muitos, trata-se de uma insuficiência de decisão politica. O poder teria sido exercido indevidamente ou ainda não teria sido exercido como devia. Nos EUA, queixam-se de Obama; em Portugal e na restante Europa, de Merkel. Temos aqui o indicio comovente de uma religião: a daqueles que acreditam que a politica é uma atividade demiurgica e que a "realidade" é apenas uma questão de poder. Bastaria "vontade politica" - um tratado, um acordo, uma lei, um decreto - para tudo se resolver. Será assim? O Ocidente é a unica zona do mundo para a qual a OCDE nao prevê crescimento no próximo ano. E a mais endividada. E a mais envelhecida. Portugal, a esse respeito, nao é exceção. A questão é: pode tudo isso ser resolvido pela decisão de um governo ou de um conjunto de governos? Será possível ao poder político ocidental recriar, por sua simples decisão, seja ela qual for (mais austeridade ou mais estímulos), a confiança que os credores do resto do mundo perderam no Ocidente - e que o próprio Ocidente perdeu em si próprio?
Nesse caso, nao estaríamos antes a viver um simples caso de acesso de lucidez? Nao seria a nossa "crise" o momento em que aquilo a que poderíamos chamar "realidade" - no sentido de algo que nos escapa, que está para alem das nossas construções e desconstruções - se impõe nos limita? No fundo, vivemos sempre incertamente. Mas umas vezes, temos consciência disso, e outras, como a pobre ceifeira de Fernando Pessoa, não. O tempo da ceifeira passou. Teremos de nos habituar a viver com mais lucidez. ■
Rui Ramos em "O Mundo em 2012"

3 comentários:

Anónimo disse...

Rui Ramos vive no seu labirinto, sem esperamça. Faz parte dos que ñunca acreditaram nos amanhãs que cantam. Pudera! Sempre pertenceu à classe dominante, nunca teve necessidadede de passar por esses pesadelos...É deixã-lo estar entregue ao minotauro. Eles que se entendam !

Saudações.

João Pedro

F. Penim Redondo disse...

Se "sempre pertenceu à classe dominante", deve ser um ignorante, desonesto, que só diz parvoíces e que nem vale a pena ouvir. Porque nós que sempre pertencemos ao proletariado, sabemos tudo, somos muito honestos e portanto não precisamos de saber o que ele diz.

Anónimo disse...

Não fui tão longe, Fernando.

Mas para certa malta o proletariado são os untermescchen e, portanto, está tudo dito. Não é preciso frequentar Oxford, Yale ou Stanford para perceber isso.
E, consequente, branco é galinha o põe.

Saudações

João Pedro