segunda-feira, dezembro 26, 2011

O fim da URSS há vinte anos

Em Setembro de 1980, 11 anos antes, em plena era Brejnev, visitei a URSS. As fotografias que pode ver AQUI foram recolhidas em Moscovo, Sibéria (Bratsk, Irkutsk e Lago Baikal) e na capital do Cazaquistão, Alma-Ata.
Mas não foi esse o meu primeiro contacto com os “países de leste”.
A minha estreia ocorrera em 1979 na Hungria. 
Meses depois da ascensão de Gorbatchov, em 1985, percorri de automóvel durante um mês, e em campismo com os meus filhos, a RDA, a Checoslováquia e a Hungria.
No ano seguinte, 1986, aproveitando uma viagem profissional a Berlim, usei a estação de metro em Friedrichstrasse como porta de passagem para Berlim Leste e, em 1987, fiz parte de uma delegação sindical numa visita de estudo do desenvolvimento informático da Bulgária.
Finalmente, mas não menos importante, visitei a parte ocidental da URSS (Leninegrado, Kiev e Moscovo) no Verão de 1988, em plena abertura política lançada por Gorbatchev e com as ruas cheias de discussões e manifestações.

No princípio de 1990, já em plena preparação do XIII Congresso do PCP, elaborei um texto intitulado “Do Socialismo Prematuro para o Socialismo do Futuro” que desenvolvia as ideias apresentadas em S. Francisco. A minha principal preocupação era conceber um conjunto de argumentos e raciocínios que permitissem a qualquer militante lidar racionalmente com o descalabro do sistema político do leste europeu. Essa preocupação resultava de me sentir politicamente responsável por tantos militantes que recrutara, ou dirigira, no decurso da minha actividade política.O texto referido foi discutido na célula de empresa mas não foi encontrada uma fórmula para o usar no quadro dos “contributos” para as Teses do Congresso, tal era a distância que o separava do texto “oficial” proposto.
18 anos depois, ainda se escrevia desta forma acerca do desabamento da URSS:

A “traição de altos responsáveis do partido e do Estado” é um dos motivos apontados para a “derrota” do socialismo na União Soviética de acordo com as Teses ao XVIII Congresso do PCP que hoje são divulgadas com o jornal partidário “Avante!”.
...
O socialismo, alternativa necessária e possível pode ler-se, na página 15: “Perante os complexos problemas que se manifestaram na construção do socialismo na URSS, assim como noutros países do Leste da Europa, o PCP expressou compreensão e solidariedade para com os esforços e orientações que proclamavam visar a sua superação, alertando simultaneamente para o desenvolvimento de forças anti-socialistas e para a escalada de ingerências imperialistas, confiando em que existiam forças capazes de defender o poder e as conquistas dos trabalhadores e promover a necessária renovação socialista da sociedade.
Mas certas medidas tomadas agravaram os problemas ao ponto de provocar uma crise geral. O abandono de posições de classe e de uma estreita ligação com os trabalhadores, a claudicação diante das pressões e chantagens do imperialismo, a penetração em profundidade da ideologia social-democrata, a rejeição do heróico património histórico dos comunistas, a traição de altos responsáveis do partido e do Estado, desorientaram e desarmaram os comunistas e as massas para a defesa do socialismo, possibilitando o rápido desenvolvimento e triunfo da contra-revolução com a reconstituição do capitalismo”.
PÚBLICO, 25.09.2008



Quando em 1990 me insurgi, no XIII Congresso do PCP, contra a pobreza das explicações encontradas pelas Teses para explicar a "derrota do socialismo no Leste da Europa" nunca me passou pela cabeça que, passados tantos anos, a mesma fórmula continuasse a ser repetida.
Em 2003 publiquei o livro “Do Capitalismo para o Digitalismo” para defender que a queda do “socialismo real” não tornou o capitalismo insuperável. É esse o pântano ideológico em que a esquerda se tem atolado nos últimos anos.
Não se trata de inventar, à pressa, novos “amanhãs que cantam”. Os amanhãs cantarão inevitavelmente façamos nós o que fizermos; trata-se de saber se ainda queremos participar na escolha da melodia e do poema.
Sem compreender profundamente o que aconteceu e que afectou ideológicamente muitos milhões de pessoas em todo o mundo,  nunca mais se fará o luto por uma experiência que devemos superar.




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