domingo, novembro 22, 2009

A impagável trama dos dois Silvas


Expresso 21.11.2009

Onde o nosso Comendador, único verdadeiro conhecedor da trama da ‘Face Oculta’, corrobora dois ministros Silvas e recomenda que o pó à Justiça seja alargado a todos os portugueses.

Aconspiração é evidente! A conspiração é por demasiado evidente! A conspiração foi denunciada por Vieira da Silva e, logo de seguida por Augusto Santos Silva. Ora, jamais aconteceu dois Silvas e, para mais ambos ministros, enganarem-se. Reparem que o último ministro, para mais primeiro-ministro, que se chamou Silva, embora mais conhecido por Cavaco, nunca se enganava e raramente tinha dúvidas.
A conspiração começou com um agente da PJ de Aveiro. Sentou-se num café, olhou em volta, pediu a tradicional bica e perguntou a si mesmo:
— Como é que vou tramar o Sócrates, que isto do Freeport já está a arrefecer?
Depois de pensar um pouco, teve uma revelação: escutar um sucateiro de nome Godinho.
A razão pela qual escutando um sucateiro de nome Godinho teria de conduzir directamente as escutas ao primeiro-ministro, ninguém sabe ao certo. Pode ter sido Deus a inspirar o agente, mas pode ter sido qualquer outra coisa. De provado, dá-se que através do sucateiro se apanha um senhor banqueiro feito à pressa, mas de enorme mérito em certas praças, pracetas, largos, ruas e becos, de nome Vara. E deste se passa ao primeiro.
Certos senhores, que têm por nobre missão defender o Governo na blogosfera (não dando a cara nem o nome, por pura modéstia e certa prudência na passagem de recibos verdes) já aventaram a hipótese de as escutas a Vara terem sido uma manobra que tinha por único objectivo chegar a Sócrates! Eu creio que foi isso mesmo! Segundo me têm dito (e lamento se violo o segredo de Justiça, mas o bom nome impõe-mo) nas escutas ao senhor da sucata só se ouvem, da parte do banqueiro Vara, conselhos sensatos: paga o que deves ao fisco; vê lá se não apanhas mais contra-ordenações por questões ambientais, e, sobretudo, eu ia lá pedir dinheiro a alguém por lhe apresentar um amigo.
A mesma beatitude e candura se passa — diz-me quem está bem informado — nas escutas entre Vara e Sócrates. Falam do tempo, das rosas, da chuva e parece que um deles elogia os seus adversários políticos, nomeadamente o Presidente, e refere que não gosta particularmente de uma telenovela da TVI.
A artimanha (que já transformara injustamente Vara em arguido, acarretando-lhe a infelicidade de se sujeitar a ganhar o salário sem dar a compensação devida do trabalho) não resultou, pois! E, irritados por não terem encontrado nada para incriminar o primeiro-ministro, o agente, juntamente com o procurador distrital e um juiz de instrução mandaram tudo para o PGR e para o Supremo, na esperança que estes, mais experientes, pérfidos e sabedores, encontrem ali crime que lhes tenha escapado. Os dois vértices da conspirata bem se esforçam, mas têm de reconhecer, ao fim de uns meses, que nada se pode fazer sobre o assunto.
E assim se desmontou a conspiração e a espionagem. Vejam lá, meus amigos, de que são capazes magistrados, inspectores, polícias, só para dar cabo do chefe do Governo, esse Santo!
Felizmente, os Silvas, que estavam com um pó à Justiça que nem a podiam ver, tiveram a coragem de denunciar. E eu, já se vê, subscrevo-os inteiramente. O resto que ouvem dizer não passa de mentira pegada!

COMENDADOR MARQUES DE CORREIA
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