quarta-feira, outubro 21, 2009

Saramago no Olimpo

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Se defendemos, justamente, que Saramago tem o direito de expressar as suas opiniões sejam elas quais forem, então há uma coisa que não podemos fazer: negar esse mesmo direito a quem o critica.
Mas é isso que têm estado a fazer muitos críticos dos críticos de Saramago.

Se Saramago pode dizer: “Deus é vingativo, rancoroso e não é de confiança" então, para sermos coerentes, os seus críticos podem igualmente usar adjectivos pesados para qualificar o escritor.

Não podemos defender a liberdade de expressão, por um lado, e pretender limitá-la, por outro.
Se assim não fosse, se negássemos a possibilidade de o criticar, então Saramago gozaria de um estatuto superior às igrejas e a Deus.
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4 comentários:

António Abreu disse...

Saramago é criticável como qualquer comum dos mortais mas o tipo de crítica para com ele não colhe pela exigência quer pela não leitura do seu livro, que poucos terão feito até agora e desde domingo, quer pela não aceitação de que a Bíblia contem, de facto, elementos suficientes para fomentar o ateísmo, como qualquer outro livro antigo que não sofra nas mensagens adequações teológicas aos dias de hoje, sob pena de não ser assimiláveel àquilo que a Igreja apresenta como sua doutrina.
Com tudo isto não subscrevo a exploração medático-comercial característica de cada um dos seus últimos livros pelo próprio. Sobre isto penso que, sim, Saramago é indicutivelmente passível de crítica.

F. Penim Redondo disse...

Caro António Abreu,

Concordo contigo na generalidade.

Penso que as discussões em curso se fazem exclusivamente à volta das declarações públicas de Saramago e não do livro.
Se bem te interpreto tu deploras, tal como eu, que afirmações desgarradas e um tanto extremadas possam manchar um livro que provavelmente tem muito maior elevação.

cão sem raiva disse...

Saramago não precisa, seguramente, de propagandear os seus livros. Saramago é um homem livre e diz o que pensa, goste-se ou não. Que venham mais Saramagos!
Descemos na tabela da liberdade de imprensa, ouvi algures, e agora se percebe por quê. Alguém diz uma coisa e vem logo o não-sei-quantos com cara de indignação refilar porque lhe estão a tocar num ponto sensível... Meus senhores, estamos no séc. XXI, não na Idade Média.

Saudoso disse...

"Os seus críticos podem igualmente usar adjectivos pesados para qualificar o escritor", ou os seus críticos devem argumentar que "Deus [não] é vingativo, [nem] rancoroso, e [é] de confiança", começando por usar a mesma fonte que Saramago usa: a Bíblia ?!