quarta-feira, outubro 14, 2009

O fino verniz da retórica sobre democracia

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No último dia da campanha para as autárquicas os media precipitaram-se sobre umas patetices de Carmona Rodrigues a propósito do seu apoio a Santana, ansiosos por descobrir mais uma "trapalhada" para animar os noticiários.
Já na noite de contagem dos votos a cobertura da sede de campanha de Santana concentrou-se num facto totalmente irrelevante: o candidato deslocava-se de vez em quando de um edifício para outro. Um jornalista mais arguto chegou mesmo a perguntar a Santana se tais deslocações tinham como objectivo "ir à casa de banho".
Até um defensor acérrimo da liberdade de imprensa como eu é assaltado por perguntas incómodas como "por que raio é dado o privilégio da comunicação jornalística a cidadãos incompetentes, ignorantes ou mesmo imbecis" ?
Outra questão que se coloca é a seguinte: por que é Santana impunemente objecto de achincalhamento público ? Mesmo quem, como eu, não é apoiante de Santana tem dificuldade em perceber por que razão ele é muito pior do que a generalidade dos políticos da nossa praça.

Ele pode ter falado nos concertos de violino do Chopin mas não assinou projectos de arquitectura pimba.
Ele pode ter sido "menino guerreiro" mas jamé fez corninhos no parlamento.
Ele pode ser populista mas não fez carreira académica na Independente à pala de um professor beneficiado na Cova da Beira.
Ele pode ter tido colaboradores corruptos (o que ainda não foi demonstrado) mas nunca ninguém o acusou de corrupção.
Ele pode ter "andado por aí" mas não foi para a Mota Engil depois de ser primeiro ministro. Apenas para dar alguns dos muitos exemplos possíveis.

Mas esta verdadeira moda de achincalhar Santana ataca mesmo em momentos impróprios.
António Costa, na noite da vitória em Lisboa, tendo-lhe sido perguntado por um jornalista matreiro o que pensava de vir a ter Santana como vereador, fez um sorriso alarve e disse "ele anda sempre por aí...".
Não teve portanto pejo de ridicularizar um adversário que nesse mesmo dia obtivera mais de 38% dos votos lisboetas e que, no seu discurso de derrota, usara de grande urbanidade em relação ao vencedor da noite.

Pode, justamente, António Costa queixar-se daqueles que menosprezaram a sua vitória por ele ser goês. Mas, mesmo por isso, como vítima desse racismo, deveria pensar mais sobre a sua atitude relativamente a Santana que sempre tem tratado como se pertencesse a uma casta inferior.
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5 comentários:

Luís disse...

Claro que o que Costa quis fazer na noite das eleições foi exactamente o mesmo que fez o recém-eleito presidente da Câmara de Beja do seu partido ao proclamar o 25 de Abril no seu concelho! A proclamação da "vitória" sobre um inventado inimigo, que ambos diabolizaram q.b.

Por isso muitos não gostaram que o SG do PCP tivesse posto a descoberto nessa mesma noite, que a vitória do PS em Beja teve por base a transferência directa de mais de dois mil votos do PSD para o PS, mas foi mesmo isso que aconteceu, basta analisar os resultados.

Em Lisboa, a indução da bipolarização levou CDU, BE e mesmo o PSD a sofrer de transferência de votos do seu eleitorado (nas Assembleias de Freguesia) para a lista do PS da Câmara. No caso de Lisboa as mesmas forças perderam votos em relação a 2005.

Em Beja, contudo, a CDU aumentou a sua votação nos três órgãos em relação a 2005 e mantém o mesmo número de mandatos na Câmara e Assembleia Municipal e até passa de 72 para 74 mandatos nas Assembleias de Freguesia. E continua a ser a força maioritária na Assembleia Municipal e detém a presidência de 11 das 18 freguesias. Em Beja houve concentração massiva de votos do PSD para o PS na Câmara (perdeu mais de 2.000 votos e o vereador) e em menor número do PSD para o PS na Assembleia Municipal (dando a presidência deste órgão ao PS).

Isto é, em ambos os casos a CDU sofreu os efeitos da bipolarização induzida: em Lisboa a favor do PS (por "medo" do PSD) e em Beja a favor do PS (para desalojar a CDU). Em Lisboa, para o PS, o PSD foi o "papão" e em Beja, para o PS, o PSD foi o escadote para ganhar a presidência dos órgãos municipais.

F. Penim Redondo disse...

Caro Luís,

estou de acordo que as declarações de Pulido Valente em Beja são de bradar aos céus. Uma ofensa a todos os bejenses.

Anónimo disse...

O António Costa é goês? Nascido? Naturalizado?

F. Penim Redondo disse...

Tanto quanto sei o pai de António Costa era escritor e goês.

Saudoso disse...

Um título altisonante para um desinspirado desconchavo de prosa. Falta de assunto.