sexta-feira, outubro 23, 2009

Do modo funcionário de viver

ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Um Adeus Português (Alexandre O'Neil)
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Um amigo alertou-me para que "todo o governo é parido no sector público". Mas se virmos bem é isso que sucede também com os deputados e os dirigentes dos partidos. A "classe política" é cada vez mais constituída por académicos, professores e advogados.

Fazer política, do BE ao CDS, é cada vez mais um hobby de funcionários da Administração Pública. Nesse sentido pode dizer-se que vivemos numa espécie de socialismo, dada a presença bastante exígua de pessoas do sector privado, quer empresários quer trabalhadores assalariados, nas cadeiras do poder.

Interrogo-me se as pessoas que nos governam, nascidas e criadas a gastar o dinheiro de um orçamento que parece cair do céu, poderão algum dia ter uma ideia, que não seja vaga, dos mecanismos económicos essenciais. Se algum dia entenderão que a discussão política não pode, como vulgarmente acontece, incidir apenas em como gastar os impostos sem cuidar de saber quando, como e com quem se assegura a criação de riqueza.

O governo não existe para resolver os problemas dos funcionários mas sim os do país. O que é bom para os funcionários não é necessáriamente bom para o país.

Quando temos uma ministra da educação que é funcionária professora , uma ministra da saúde que é funcionária médica e uma ministra do trabalho que é funcionária dos sindicatos dá-nos a impressão de que Sócrates abandonou neste mandato qualquer veleidade de impôr o primado do conjunto dos cidadãos.

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10 comentários:

Luís disse...

"Quando temos uma ministra da educação que é funcionária professora , uma ministra da saúde que é funcionária médica e uma ministra do trabalho que é funcionária dos sindicatos" ???

Acha mesmo que mais do que as escolhas para o governo – não sendo absolutamente indiferente - a questão determinante não será o conteúdo e as opções da política?

E não acha que perante a gravidade e a dimensão dos problemas nacionais – crise, desemprego, baixos salários, injustiças, corrupção, dependência – a questão decisiva que se coloca ao país é a de uma ruptura e de uma mudança com mais de três décadas de política de direita?

No meu entender o importante é uma ruptura e uma mudança capaz de garantir uma vida melhor aos trabalhadores e ao Povo, um país de progresso, mais justo, mais democrático e soberano.

Anónimo disse...

Eh pá, Luís: foda-se! Deixa-te de andares por todo o lado armado em catequista, qual Margarida de quem parece teres herdado a função.

Não te ocorre que o pessoal já leu por essa cartilha há muitos anos?

Arranja outra entretenha, pá!

Luís disse...

Parece que o Anónimo não é dos acham que a questão decisiva que se coloca ao país é a de uma ruptura e de uma mudança com mais de três décadas de política de direita. Pois eu acho que é. E já agora quem é a Margarida de que fala?

Saudoso disse...

Luís disse que "a questão decisiva que se coloca ao país é a de uma ruptura ... ".

Pois bem, seria curioso ver como é que a reforma do aparelho do Estado se processaria. Os partidos que se reclamam de esquerda têm especiais responsabilidades na matéria (e especialmente de fazer propostas concretas, em vez de fazer de conta que sabem o que há a fazer) já que, no caso dos professores, eles ACEITARAM que:
os mesmos só deveriam ser avaliados nos termos que negociassem; os resultados não deveriam contar para a avaliação; os professores não deviam ser classificados em graus hierárquicos; etc, etc.

É muito confortável falar em política de direita, mas nesta como noutras matérias ninguém sabe qual é a de esquerda.

Luís disse...

"seria curioso ver como é que a reforma do aparelho do Estado se processaria."

Obviamente que qualquer reforma do aparelho de Estado se teria que fazem negociando com os trabalhadores do Estado, através dos seus representantes. Aliás foi precisamente essa a proposta que já apresentámos para o Estatuto da Carreira Docente. É assim que a esquerda (ou qualquer governo sensato) actua, não há volta a dar-lhe. É com os trabalhadores que se avança e não impondo, como o anterior governo fez com os resultados conhecidos.

Anónimo disse...

Os funcionários públicos são o novo proletariado do Luís (já que o outro, o verdadeiro, está em vias de desaparecimento).

Este proletariado é até melhor do que o industrial. Está perto do poder, pode boicotar serviços públicos essenciais e não corre o risco de despedimento.
É o que se chama jogar pelo seguro.

Luís disse...

Foi o Fernando quem trouxe à discussão os funcionários públicos. Para mim são trabalhadores como os outros e não entendo porque estão sempre na berlinda. Certamente que eles querem o mesmo que os restantes trabalhadores portugueses, em primeiro lugar, respeito pelos seus direitos e paz.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Viu-se a rapaziada que veio do sector privado para o Governo: os Oliveira e Costa, os Dias Loureiro, os Cadilhe e aqueles que para lá regressaram os Dias Coelho o Pina Moura. Tretas de quem discute política entre os rapazes que produzem riqueza do sector privado e os que vivem à sua custa na função pública. O grau zero da discussão política.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

É evidente que não é Dias Coelho, mas sim Jorge Coelho

Acilina disse...

"Quando temos uma ministra da educação que é funcionária professora , uma ministra da saúde que é funcionária médica..."
Pois, pois! Todo o funcionário público é mau, por definição, e acabou-se! Entendi.
A guerra contra os funcionários já mete nojo.
Portanto o dono deste blog defende que o Sócrates devia ter escolhido um carpinteiro para ministra da educação, um bate-chapas para ministro da saúde e ... já agora... um gabinete todo formado de ex-IBMs. Assim sim, dar-se-ia valor à privada e seria o paraiso na terra...
Os problemas do país não se resumem à dicotomia ser ou não ser funcionário público, ainda não entenderam? É de visões redutoras e tacanhas como esta que o Sócrates se vale para propagandear as suas políticas que visam unica e exclusivamente poupar uns cobres em sectores tão indispensáveis e básicos como a saude e educação para depois os poder esbanjar em obras públicas, que dão bastos lucros aos amigalhaços... e a ele!