(texto de Rosa Redondo enviado para publicação pela autora)
O filme "Tropa de Elite" de José Padilha é um murro no estômago. Como era de esperar já disseram sobre ele os lugares comuns do costume e já lhe colaram os rótulos habituais. Curiosamente, em Portugal, em especial na blogoesfera, tem-se falado pouco sobre ele; talvez porque temos receio de ser confrontados com alguns cantos mais “obscuros” do nosso íntimo e de ter de pôr em causa alguns dos princípios “bonitos” em que nos apraz fundamentarmo-nos.
Uma excepção é a inteligente crítica que Jorge Leitão Ramos publicou no Expresso de 12 de Julho (“Tiro e Queda”) e que perfilho quase sem reticências.
Acrescentarei só que uma das coisas que o filme nos mostra é que o “sistema” cujos indícios vemos na corrupção “hard” da policia, na corrupção “soft” das ONG, no poder brutal dos bandos da droga, não pode ser desmantelado de dentro, porque se auto-regenera. E o conceito de “de dentro” é muito amplo; inclui o modelo produtivo, social e governativo, o corpo legislativo e judicial, a organização policial...
Há uma frase do capitão Nascimento que não pára de me ressoar na cabeça: “Só rico com consciência social é que não sabe que guerra é guerra.”
Outra grande questão “quente” é a da legalização da venda e consumo de droga. É preciso ter a coragem de a abordar sem moralismos. É já um lugar comum, mas nem por isso é menos verdade, que a “Lei Seca” foi a fortuna dos gangsters.
A ver. Absolutamente.
Rosa Redondo, 17.07.2008
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3 comentários:
Os constrangimentos eleitorais levam os políticos "democráticos" a varrer certos problemas para debaixo do tapete. Claro que depois tem que haver alguém que faça o trabalho sujo.
O filme coloca muitas perguntas para as quais não se conhecem respostas aceitáveis. A principal dessas perguntas é:
até onde é legítimo ir, em nome da eficácia, quando se combate um banditismo inadmissível ?
Os casos tipo Quinta da Fonte, numa escala mais atrasada, mostram os riscos que corremos e como os mecanismos desresponsabilizantes funcionam.
Gostei da referência às "ONG's", a minha propria vivência pessoal, lá bem longe, deu para ver o incrível regabofe sempre em nome dos "pobrezinhos", substituíu-se o "pobre cá de casa", pelo conceito "pobres que dão jeito", mais alargado, dando mais dinheiro e negócios que nem vos digo nada.
Como me dizia alguém com muita experiência nestas coisas:
"Nunca se completa um projecto na totalidade, há sempre que deixar as pontas penduradas para o seguinte, quando não ficamos sem emprego"
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