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Passou pouco mais do que um mês sobre o fim da carreira do Sweeney Todd no Teatro Aberto (que analisei AQUI) e já temos em exibição nos cinemas a versão Tim Burton/Johnny Depp.
Torna-se inevitável uma comparação mesmo que, para o efeito, eu me considere suspeito. Esclareço desde já, para ganhar alguma condescendência dos leitores, que se por um lado tenho ligações afectivas com alguns dos intervenientes na versão do João Lourenço, por outro sou um admirador de longa data tanto de Tim Burton como de Johnny Depp.
O filme é uma obra admirável, digo-o sem reservas, com uma cenografia e uma fotografia portentosas e servido por excelentes actores, com destaque para Depp. A questão que se coloca é, no entanto, como comparar enquanto espectador a fruição do filme com a da versão teatral.
O filme, com os enormes meios de que dispôs, conseguiu uma fabulosa recriação de ambientes e de espaços. Pela sua própria natureza pode mostrar-nos grandes planos dos actores e dos objectos. Usou recursos orquestrais muito potentes e teve a possibilidade de equilibrar as várias fontes sonoras em cada momento.
Em contrapartida, a riqueza dos meios visuais e a sofisticação sonora do filme entram por vezes em contradição com o tom intimista da trama e com o carácter da música.
Os actores são excelentes na representação mas não têm capacidade vocal para dar senão uma pálida imagem dos fabulosos temas musicais escritos por Stephen Sondheim.
A quem só viu o filme recomendo que procure, por outra via, aceder às belíssimas "árias" do Sweeney Todd.
A perturbante dialética entre a comicidade (irresistível no teatro) e o horror perde-se de alguma forma no filme já que opta permanentemente por um registo sombrio.
O casting não terá sido o ideal; a Mrs. Lovett criada por Helena Bonham Carter está físicamente longe da decadência matreira que o personagem exige.
O empregado Toby resulta melhor na versão teatral pois no cinema, que usa uma criança, perde-se grande parte do dramatismo das cenas finais.
Algumas cenas irresistíveis cantadas por Carlos Guilherme foram cortadas no filme, talvez por não estarem vocalmente ao alcance dos interpretes.
Como espectador, resumo a comparação desta forma: a versão teatral de João Lourenço impressionou-me mais, resultou mais divertida e musicalmente muito mais rica.
Mas não tirem conclusões precipitadas: eu acho imprescindível ver o filme.
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