sábado, novembro 19, 2011

Sem tempo e sem saída



"IN TIME", traduzido em Portugal para "Sem Tempo", é um filme de Andrew Niccol sobre uma distopia situada no ano 2161. Aos 25 anos todos os homens e mulheres vêem iniciar-se uma contagem decrescente  no relógio que lhes foi implantado no braço e que, se nada fizerem, provocará a sua morte ao fim de um ano. 
Para o evitar é preciso trabalhar e ganhar mais "tempo de vida", a moeda corrente em tal mundo. Enriquecer é, por consequência, acumular tanto tempo potencial de vida que dispense o seu detentor de uma permanente correria pela sobrevivência e fazer todo o tipo de transacções com essa espécie de novo dinheiro. É possível aos ricos viver durante séculos, ou milénios, mantendo sempre a aparência física dos 25 anos, de quando o relógio começou a desandar.


Não é difícil perceber nesta história uma translação metafórica da sociedade actual baseada no assalariamento. De facto a engenhosa situação que o filme inventa não é mais do que a concretização futurista da tese de Marx segundo a qual o salário está "socialmente calibrado" para permitir a renovação da força de trabalho:
“Poderia responder com uma generalização e dizer que, tal como com todas as outras mercadorias, também com o trabalho, o seu preço de mercado, a longo prazo, se adaptará ao seu valor; que, por conseguinte, apesar de todos os altos e baixos e faça o que fizer, o operário só receberá, em media, o valor do seu trabalho, que se resolve no valor da sua força de trabalho, o qual é determinado pelo valor dos meios de subsistência requeridos para o seu sustento e reprodução, o qual valor dos meios de subsistência é finalmente regulado pela quantidade de trabalho necessário para os produzir (Salário, Preço e Lucro, trad. portuguesa, Ed. AVANTE, 1983, pag.. 65-67)”.
No filme, os trabalhadores em vez de ser pagos com dinheiro que lhes permita comprarem a sua subsistência são pagos directamente em tempo.


O filme tem uma fase descritiva inicial bem organizada e que prende o espectador à expectativa. Mas o autor, depois de mostrar o cerne da inventiva, parece desamparado sem saber como prosseguir e concluir o enredo criado.
Passa então para um registo de tipo policial, com laivos de Robin dos Bosques que rouba tempo ao ricos para dar aos pobres e reminiscências de Bonny and Clyde (o herói da fita anda a roubar na companhia da elegante filha do vilão rico).


Não há ninguém que tente parar, quanto mais reverter, os ponteiros do relógio fatídico. Na ficção, como na vida real, falta imaginação para travar a injustiça.


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