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Penso que há um equívoco quando se diz "não pagamos", como se fosse uma solução. É que nós ainda não estamos a pagar nada, estamos apenas a tentar reduzir o ritmo de crescimento da nossa dívida.
Portanto parar os sacrifícios actuais significa apenas deixar a dívida continuar a crescer descontroladamente. Mas essa via tem um pequeno problema: para a dívida continuar a aumentar tem que haver alguém que nos empreste dinheiro, o que não acontecerá em tais circunstâncias.
Em síntese, ou nós aprendemos a viver com menos, a empobrecer controladamente ou, em alternativa, há alguém que nos fecha a torneira e empobrecemos à bruta e no meio do caos.
Convém estar consciente de que, no fundo, é uma destas duas coisas que podemos escolher.
10 comentários:
Isto é um mundo de equívocos. O teu parece-me ser juntares todos os "nós" no mesmo saco. Os que efectivamente viveram acima das nossas possibilidades, e que não tendo participado no regabofe, agora são chamados a pagar a conta.
Brissos, estás a ser injusto. Há muitos capitalistas que compraram acções do BCP a 5 euros e agora valem só 12 cêntimos. É pior do que ser funcionário público.
Oh, Fernando
É caso para dizer: Os pobres que paguem a crise. Salvemos os ricos ! De resto, já estão habituados...O sinistro Kissinger terá dito numa reunião do clube de bildberg aqui há uns anos que havia4.000 milhões de pessoas (!!!???) por exterminar... A guerra aos pobres - e como vamos (...)empobrecer, Coelho dixit - já começou, pois, há anos, de forma não declarada, quase invisivel, com a destruição paulatina de todos os suportes das massas populares e pode chegar, se os deixarem, ao efectivo exterminio. Não esquecemos Hiroshima tão longe e tão próxima, o napalm, os tasers, a guerra química, os drones, a chantagem, a intimidação, o pensamento único, a verdade oficial. Afinal toda a panóplia de armas e outros argumentos que vencem e convencem os mais renitentes... O horror ao crescimento da China. A propósito, quando é que trazes notícias da China ? Aí, pelo meu lado, as coisas tendem a ser mais convergentes.
Saudações também ao Brissos com o qual estou de acordo.
JOÃO pEDRO
Tens razão. Os que dizem "não pagamos" estão equivocados. Espero que me fales dos que querem, por este caminho, pagar...
Quanto às opções de caos, acredito que já andes a praticar o empobrecimento controlado, poupando, por exemplo, nas opções colocadas...
"Há muitos capitalistas que compraram acções do BCP a 5 euros e agora valem só 12 cêntimos."
Acho que estás a cometer um "pequeno" erro. Para aí da ordem dos 500%. Pelo que vejo na net o valor nominal das acções do BCP é 1 euro, e não 5.
Não sei se haverá muitos que jogaram no casino e perderam, mas sabemos de um deles que lá meteu para aí uns MIL MILHÕES DE EUROS. Só que não eram dele, eram emprestados pela CGD e outros bancos.
E que me conste ao contrário do que fazem a um desempregado que deixa de pagar a prestação da casa e é logo despejado, a esse ainda não aconteceu nada, NIENTE.
Por estas e por outras, parece-me um grande EQUÍVOCO falar em NÓS, quando se fala destas cenas.
Caros amigos, constato que nada disseram em relação à difícil escolha que eu menciono no fim do texto. Claro que as injustiças e desigualdades existem e devem ser combatidas mas isso é outra conversa, não resolve o problema com que estamos confrontados.
Oh Fernando, empobrecer ainda mais? Se já estamos na cauda da Europa, o passo seguinte será passarmos a ser a cauda do Mundo.
Abraço
Torres (o escrevinhador)
Torres, o que é mais triste é que o nosso empobrecimento (relativo) é já um facto e não algo que possamos escolher não ter. Quando muito podemos resolver tentar recuperar no futuro.
A cauda do mundo, meu caro, está muito, mesmo muito, abaixo do ponto onde nos encontramos.
É quase um sacrilégio comparar a nossa pobreza com a de muitos povos por esse mundo fora. Acho mesmo que grande parte da população portuguesa mais jovem não tem uma noção muito clara do que é a verdadeira pobreza. Há 60 anos, quando da minha infância num bairro popular e numa família modesta, assisti a formas de penúria e sofrimento que hoje são impensáveis em Portugal mas correntes em muitas outras latitudes.
Fernando, a cauda do Mundo é já ali ao virar da esquina. A linha que nos separa é muito ténue. Só ainda lá não chegamos porque quem está no poder vai continuando a alimentar as nossas expectativas, acenando-nos com engodos e com aquela conversa de que se fizermos mais um sacrifício e abdicarmos de mais umas quantas coisas, acabamos por ver a luz ao fundo do túnel, o que é falso, pois apenas há túnel e não leva a lado nenhum. Essa promessa de luz é a única coisa que nos separa dos Burkinas Fassos deste mundo, onde as pessoas já não têm expectactivas, limitando-se a sobreviver no quotidiano, tão duro quanto real. Pedir emprestado “ad eternum” numa contínua espiral de endividamento, ou plantar algumas couves e batatas no baldio ao pé da porta, não substitui a o tecido económico de que carecemos (e que continua a definhar), para criar riqueza e suprimir o desemprego. E começo a ficar sériamente preocupado, seja com a nossa anemia e resignação, sinal de que a tal luz de que tanto se fala, está a perder credibilidade, seja porque os 20% de nós que não desarmam, não chegam para operar mudanças. Quando já não houver ninguém para espoliar, nem nada para vender ou hipotecar, é certo que estaremos a transpor a tal linha invisível.
Fernando Torres (o escrevinhador)
Bom fim-de-semana
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