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Muito antes de a Deolinda se declarar parva já eu tinha concluído que se tratava de um remake, fracote, dos Madredeus. Mas isso agora não vem ao caso.
A canção em voga, "que parva que eu sou", é acima de tudo uma excelente ilustração de como os processos sociais podem ser totalmente incompreendidos.
O "direito ao trabalho" é paulatinamente transformado em "direito ao assalariamento em contrato sem termo", como se fossem a mesma coisa e como se essa fosse a única forma possível de ganhar a vida.
A concepção do trabalho como assalariamento e do assalariamento como um direito, que não se sabe quem poderá garantir, tem sido espalhada por uma geração de políticos que nunca teve que trabalhar para se sustentar fora da redoma dos compadrios partidários.
Traduz a ideia peregrina de que as escolhas que fazemos na vida não têm consequências económicas (isso é economicismo) e devem portanto ser avaliadas exclusivamente no plano da ética. A partir desse ponto é fácil concluir que não há empregos porque quem devia proporcioná-los procede com maldade. Haver ou não emprego parece então estar apenas dependente da vontade e não ter nada a ver com regras económicas que, goste-se ou não (e eu não gosto), são as que estão em vigor.
A insuportável (para a Deolinda) realidade é a seguinte: só nos dá emprego quem pensa vir a ganhar dinheiro com o nosso trabalho (se quiserem podem chamar a isto exploração). A insuportável realidade é que nas economias desenvolvidas parece haver cada vez menos quem esteja interessado em ganhar dinheiro arrendando-nos.
O importante é tentar perceber porque é que tal está a acontecer. Eu tenho uma data de ideias sobre o assunto mas ficam para outra ocasião.
O Estado, enquanto houve dinheiro, foi contratando as pessoas que o sector privado não absorvia. Os resultados disso estão hoje à vista. Esse tipo de solução tem os dias contados (veja-se o que está a acontecer em Cuba onde o Estado alimentou o sonho de garantir o pleno emprego, convertendo toda a gente em funcionários públicos, e agora está a despedir centenas de milhares de pessoas).
Estou inteiramente ao lado daqueles que acham que esta situação de falta de emprego e de precariedade é insustentável.
Mas não faz sentido criar capitalistas em aviário e forçá-los, por decreto, a explorar-nos mesmo que não queiram.
Em suma, necessitamos de um novo modo de produção que funcione noutros moldes, que esteja adequado às tecnologias de hoje e aos meandros da globalização.
Desafio a Deolinda a fazer uma canção sobre isso.
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Muito antes de a Deolinda se declarar parva já eu tinha concluído que se tratava de um remake, fracote, dos Madredeus. Mas isso agora não vem ao caso.
A canção em voga, "que parva que eu sou", é acima de tudo uma excelente ilustração de como os processos sociais podem ser totalmente incompreendidos.
O "direito ao trabalho" é paulatinamente transformado em "direito ao assalariamento em contrato sem termo", como se fossem a mesma coisa e como se essa fosse a única forma possível de ganhar a vida.
A concepção do trabalho como assalariamento e do assalariamento como um direito, que não se sabe quem poderá garantir, tem sido espalhada por uma geração de políticos que nunca teve que trabalhar para se sustentar fora da redoma dos compadrios partidários.
Traduz a ideia peregrina de que as escolhas que fazemos na vida não têm consequências económicas (isso é economicismo) e devem portanto ser avaliadas exclusivamente no plano da ética. A partir desse ponto é fácil concluir que não há empregos porque quem devia proporcioná-los procede com maldade. Haver ou não emprego parece então estar apenas dependente da vontade e não ter nada a ver com regras económicas que, goste-se ou não (e eu não gosto), são as que estão em vigor.
A insuportável (para a Deolinda) realidade é a seguinte: só nos dá emprego quem pensa vir a ganhar dinheiro com o nosso trabalho (se quiserem podem chamar a isto exploração). A insuportável realidade é que nas economias desenvolvidas parece haver cada vez menos quem esteja interessado em ganhar dinheiro arrendando-nos.
O importante é tentar perceber porque é que tal está a acontecer. Eu tenho uma data de ideias sobre o assunto mas ficam para outra ocasião.
O Estado, enquanto houve dinheiro, foi contratando as pessoas que o sector privado não absorvia. Os resultados disso estão hoje à vista. Esse tipo de solução tem os dias contados (veja-se o que está a acontecer em Cuba onde o Estado alimentou o sonho de garantir o pleno emprego, convertendo toda a gente em funcionários públicos, e agora está a despedir centenas de milhares de pessoas).
Estou inteiramente ao lado daqueles que acham que esta situação de falta de emprego e de precariedade é insustentável.
Mas não faz sentido criar capitalistas em aviário e forçá-los, por decreto, a explorar-nos mesmo que não queiram.
Em suma, necessitamos de um novo modo de produção que funcione noutros moldes, que esteja adequado às tecnologias de hoje e aos meandros da globalização.
Desafio a Deolinda a fazer uma canção sobre isso.
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5 comentários:
No nosso tempo, e no nosso espaço, o caminho é o de garantir o pleno emprego. É isso que, designadamente, queremos para os nossos pais, para os nossos filhos, para os nossos irmãos. O sonho milenar da libertação do homem está a um passo. No nosso tempo, mesmo medido à chinesa, isso traduz-se na realização do socialismo e do comunismo. Cuba heróica tem essa preocupação. E ultrapassará as baias, as contradições, de viver num mundo real que torna as coisas difíceis mas superáveis. Como sabes, o sonho comanda a vida. Há mais de 2.000 anos com Spartacus. Nos tempos modernos e contemporâneos com Marx, Engels, Lenine, Álvaro e tantos tantos outros e mais milhões de anónimos que não desistiram de lutar por um mundo melhor.
De resto, as conquistas civilizacionais e tecnológicas tornam irracional a demora da chegada da sociedade nova, ou melhor, se se preferir.
Saudações.
João Pedro
Imperdoável João Pedro, esqueceu-se do Zé dos Bigodes.
E já agora o Barbas...
Os Deolinda fazem o que quiserem como artistas que são. Compete-lhes fazer música, não resolver os problemas do país. Há gente em quem votamos na esperança que sejam mais habilitados para este fim. A meu ver interpretou mal a música, ela fala de mudança de paradigma e usa as lamurias correntes para sacudi-las. Critica o marasmo da juventude actual e no fim o "parva não sou" é um grito de força e atitude. Por isso convido-o a re-ouvi-la com mais atenção e perceber a ironia do texto. Pôr a responsabilidade da mudança numa banda, parece, desculpe o termo, bastante idiota.
Peço desculpa de cultivar uma opinião diferente de alguns dos comentadores, e ainda bem, é que eu não suporto o derrotismo neo-cínico da cantiga e dos seus apoiantes. Também eu já tive 20 e poucos lá para "8itentas" e levei com juros a 35% para a compra de casa, arrendamentos que não existiam, FMI, agit prop e exploração qb, falta de empregos e nada das ajudas que agora fazem escola...mas não fiquei paradinho, a cantar músicas giras, fui à procura do meu espaço. É o que proponho a esta malta, é verdade que está dificil, mas enquanto estiverem entretidos a esgotar o Sudoeste, o Optimus ALive, as jantaradas com os amigos, o BA e a polir os pópós (que os cada vez mais "pobres" papás subsidiam), não vão longe, olhem para o interior e para o exterior procurem a mudança, saiam da zona de conforto, custa, não custa?
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