domingo, abril 19, 2009

Fundamentalismo grotesco

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Subversivo, à sua maneira, sem dúvida, mas ninguém imaginava que um dia também o Sr. Hulot se tornasse "incorrecto". Já aconteceu.
A Cinemateca Francesa, em Paris, que organiza actualmente uma retrospectiva da obra de Jacques Tati, o realizador de As Férias do Sr. Hulot, O Meu Tio ou Playtime, não pôde incluir, nos cartazes promocionais do ciclo, o cachimbo que fazia parte integrante da silhueta da personagem Sr. Hulot. A lei francesa da publicidade ao tabaco não deixa.
Trata-se do maior ataque à "iconografia popular" desde que Lucky Luke foi constrangido a perder o cigarro a favor de uma palhinha. Tem havido manifestações de protesto em Paris, a que se associou a própria Liga dos Direitos Humanos. Depois de tanto a criticarem, eis que Tati e o Sr. Hulot se vêem vítimas da "vida moderna". Há aqui alguma ironia, e, como diz o cineasta Costa-Gavras, presidente da Cinemateca Francesa, se tivesse visto isto, Jacques Tati "morreria de riso". A falta que ele faz, a falta que fazia um Playtime II para o tempo da saúde e da higiene.
Público, 18.04.2009

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9 comentários:

Luís Bonifácio disse...

Parece que a noticia do público é que é um pouco autista.

A RATP (Transportes públicos de Paris) é que "censurou" o cartaz, colocando-lhe o ridículo moinho de vento.

Se for ao site da Cinematéca Francesa há cachimbos Hulot por todos os lados.

O Sr. director do público necessita urgentemente de pagar umas aulas de Francês aos seus jornalistas.

F. Penim Redondo disse...

Caro Luís Bonifácio,

Não me parece que essa seja a questão.
Tanto me dá que tenha sido a Cinemateca (o Público diz "não pôde") como a RATP.

O fundamentalismo e o absurdo é igualmente grave.

Luís Bonifácio disse...

Mas pelos vistos parece que pode!

http://www.cinematheque.fr/fr/expositions-cinema/tati/index/bienvenue.html

F. Penim Redondo disse...

Tanto quanto eu percebo a proibição legal incide sobre a publicidade em locais públicos e não abragerá, aparentemente, o site da Cinemateca.

Se eu percebo a notícia a Cinemateca "não pôde" fazer a publicidade que pretendia, com a imagem original, por impedimento legal invocado pela RATP.

a presença das formigas disse...

Lamento ver o Sr. Hulot sem cachimbo, mas não vejo aqui nenhum fundamentalismo grotesco.

O que vejo é um "dano colateral" duma lei que acho justa, a que proíbe a publicidade ao tabaco.

Criar excepções? Como? Para as tabaqueiras passarem a promover eventos culturais em que usassem imagens de fumadores?

Havíamos de ter exibições do Casablanca anunciadas em cartazes e spots televisivos com o Rick e a sua beata em grande destaque, semana sim semana não.

F. Penim Redondo disse...

Mesmo que se considere justo a proibição de publicidade ao tabaco, o que é bastante discutível, é claro que este anúncio não era uma publicidade ao tabaco.

Quer se queira quer não há pessoas que fuma, ou que fumaram. Vamos apagá-las da história ?

Roosevelt e Churchill deixam de existir ? são substituídos por Hitler já que esse, ao menos, não fumava.

Este é realmente um fundamentalismo:
1. exagera um problema atribuindo-lhe consequências catastróficas,
2. encontra uma pseudo-solução milagrosa para o problema
3. a seguir acha que tudo e todos se têm que submeter.

Não vou por aí

Fernando Torres disse...

De facto vivemos num tempo em que o fundamentalismo higienista está a contaminar toda a escala de valores, levando-nos a consentir na "técnica do "apagador". Estaline mandou "apagar" das fotografias todas as imagens de Trotsky, os actuais higienistas começaram a tratar da saúde ao Lucky Luck e senhor Hulot, e sabe-se lá até onde chegarão.

a presença das formigas disse...

De acordo com o FPR e FT, em que não se deve tirar o cachimbo ao Sr. Hulot ou o Trotsky das fotografias.

Mas o que está aqui em causa é usar imagens de fumadores em PUBLICIDADE, percebem a diferença ?

Claro que se não concordam com a proibição da publicidade ao tabaco, as vossas posições já farão sentido. Mas não exagerem: "fundamentalismo grotesco"? "fundamentalismo higienista"? Guardem lá o fundamentalismo para onde ele faz falta.

Com os 3 pontos da argumentação de FPR do que é fundamentalismo, a proibição de conduzir bêbado é fundamentalista:
1. exagera um problema atribuindo-lhe consequências catastróficas,
2. encontra uma pseudo-solução milagrosa para o problema
3. a seguir acha que tudo e todos se têm que submeter.

F. Penim Redondo disse...

Caro formigas,

- os acidentes de viação são um bom exemplo dos exageros (morre mais gente de gripe e ninguém fala do assunto)

- proibir os bêbados de conduzir não é uma pseudo-solução (proibir o cachimbo do Hulot é)

- aquilo que a lei considera ser um bêbado está muito longe de ser razoável

enfim, as pessoas têm que estar convencidas de que estão a salvar o mundo para não incomodarem.
É uma moda como qualquer outra.