sexta-feira, abril 18, 2008

Um caso como muitos outros, em Abril

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Há exactamente 34 anos fui preso pela Pide. Quando saía de casa para o emprego, na praceta adjacente, fui interceptado por cinco ou seis homens que me forçaram a subir de novo ao terceiro andar.
Obrigaram-nos a sentar, a mim e à minha mulher, enquanto passavam a casa a pente fino perante o espanto do meu filho Mário de três anos. Encontraram vários livros, tanto romances como ensaios, que consideraram suspeitos e que apreenderam. Também apreenderam algumas fotografias de índole pessoal.
Numa incompetência que então me pareceu miraculosa manipularam e acabaram por deixar intacto um enorme pacote, amarrado com uma corda, que continha centenas de Avantes.
Depois disso ordenaram-me que os acompanhasse para me fazerem algumas perguntas.
Uma hora depois tive a horrível experiência de ouvir a chave da cela a rodar metálicamente nas minhas costas. Contara sem dar por isso, uma a uma, todas as portas que se tinham fechado desde que entrara em Caxias.

11 comentários:

Joana Lopes disse...

Aqui fica a minha participação nesta história. Nesse dia, não apareceste na IBM. No dia seguinte,foi a vez da Rosa.
À hora do almoço, uma colega nossa pediu-me para ir com ela a vossa casa para confirmarmos o que parecia certo - e era.

Avisei depois a Direcção da IBM e a notícia caiu como uma bomba.
Nos corredores, discutiu-se muito a PIDE e os seus métodos. Havia pessoas que não sabiam nada, que não queriam creditar que aquela polícia batia e torturava. Um mês e pouco depois estavam a gritar pelo povo unido - ainda bem, é claro, sem ironia.

F. Penim Redondo disse...

Com efeito a Maria Rosa, depois de queimar a papelada na sanita, foi à António Maria Cardoso exigir a minha libertação tendo sido também presa.
Nós fizemos parte do último grupo de pessoas (18 salvo erro) presas antes do 25 de Abril.
Desse grupo fazia parte o Tengarrinha.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

É espantoso. A minha recordação desse tempo é de que tinhas sido preso aí um mês antes do 25 de Abril e não sete dias antes. Ainda bem.
Lembrava-me que o António Carlos Manso Pinheiro, já falecido, tinha sido preso aí uns dois meses antes do 25 de Abril e que tu e a Rosa tinham sido pouco depois. Como a memória nos atraiçoa.
Um abraço

JOSÉ MANUEL CORREIA disse...

Pouco mais ou menos pela mesma altura, a minha sanita rachou. Imagine porquê.
JMC.

Silva Brandão disse...

Em tempo de guerra fria andar a apoiar a parte inimiga e a conspirar contra o próprio estado não é muito louvável. Enfim, traidores.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Não sabia que os fascistas já liam este blog. Lamento.

Anónimo disse...

Pobre JMC, onde haveria de querer esconder-se... e afinal os PIDES nem foram perseguidos!

Fernando Vasconcelos disse...

Já não sei como cheguei a este blog. Talvez através de alguma lista. Mas ainda bem que cheguei porque vou ficar por aqui. 25 de Abril sempre. Quanto ao comentário de um tal de "Joachim Von" enfim ... o que se há de fazer? Foi precisamente para nós termos esta liberdade que vós vos haveis batido. Mas caro Joachim que não se iluda: A sua liberdade termina exactamente onde a nossa começa e a mesma não é sinónimo de todos podermos fazer e dizer o que quisermos. Liberdade significa também responsabilidade, respeito e educação. Quem conspirou contra um estado totalitário quer em Portugal quer na Alemanha Nazi caro Joachim não foi um traidor. Foi antes um patriota um verdadeiro nacionalista no sentido mais puro da palavra: daquele que ama a sua pátria e o seu povo. Ouvi hoje na rádio uma canção dos Beatles caro Joachim que lhe recomendo ... "Revolution" ... e em particular o verso "you better open your mind instead" ...

F. Penim Redondo disse...

Obrigado Fernando, em especial pelas suas sábias palavras.

JOSÉ MANUEL CORREIA disse...

O anónimo mg apanhou alguma indigestão, caíram-lhe mal as leituras e está confundido, ou então está a ver-se ao espelho...
JMC.

Anónimo disse...

Caro JMC, creio que confundi a mensagem relacionada com a "sanita",por o seu spot vir colado à intervenção de um tal Joachim Von que me deixou aborrecido e, daí...
Sei (mas não lembrei a tempo!) que aquele equipamento foi, muitas vezes, utilizado para fazer desaparecer documentação inconveniente. Se a referência era séria, peço desculpa da minha piada (?).
Não gosto de ofender, gosto de enfrentar.