quarta-feira, janeiro 16, 2008

Precariedades

Em tempos, quando ainda me conseguia escandalizar com os desperdícios do consumismo, pensei num estratagema para castigar os consumidores irreflectidos.

Os aparelhos, quando não fossem usados suficientemente, deixariam de funcionar; a máquina fotográfica imponente que só dispara no Natal, o bólide que só anda duas vezes por ano e a estereofonia que a televisão nunca deixa ouvir parariam simplesmente de funcionar.
Para os reactivar o proprietário teria que pagar uma taxa que revertia para um fundo qualquer com fins altruistas. A coisa não pegou.

A ópera/musical "Evil Machines", em cena no S. Luis, com libreto de Terry Jones e música de Luís Tinoco volta de certa forma ao mesmo tema mas mostra-nos o problema tal como ele é visto do lado das máquinas. Usadas e descartadas à mais pequena avaria. Vítimas da obsolescência programada.


Não é isso que acontece também com os homens ? De que se queixam então as máquinas ?
As máquinas revoltam-se e, na sua ingenuidade, chegam a planear a eliminação de toda a raça humana para se livrarem da opressão. Depois acabam por concluir que, sem as pessoas, as máquinas deixariam de fazer sentido. E acaba tudo em boa harmonia. Não sei se, no caso dos humanos, o problema será resolvido com a mesma facilidade.
Esta questão tem ressonâncias contraditórias para alguém que, como eu, teve as principais escolas no PCP e na IBM.


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