Em tempos, quando ainda me conseguia escandalizar com os desperdícios do consumismo, pensei num estratagema para castigar os consumidores irreflectidos.
Os aparelhos, quando não fossem usados suficientemente, deixariam de funcionar; a máquina fotográfica imponente que só dispara no Natal, o bólide que só anda duas vezes por ano e a estereofonia que a televisão nunca deixa ouvir parariam simplesmente de funcionar.
Para os reactivar o proprietário teria que pagar uma taxa que revertia para um fundo qualquer com fins altruistas. A coisa não pegou.
A ópera/musical "Evil Machines", em cena no S. Luis, com libreto de Terry Jones e música de Luís Tinoco volta de certa forma ao mesmo tema mas mostra-nos o problema tal como ele é visto do lado das máquinas. Usadas e descartadas à mais pequena avaria. Vítimas da obsolescência programada.
Não é isso que acontece também com os homens ? De que se queixam então as máquinas ?
As máquinas revoltam-se e, na sua ingenuidade, chegam a planear a eliminação de toda a raça humana para se livrarem da opressão. Depois acabam por concluir que, sem as pessoas, as máquinas deixariam de fazer sentido. E acaba tudo em boa harmonia. Não sei se, no caso dos humanos, o problema será resolvido com a mesma facilidade.Esta questão tem ressonâncias contraditórias para alguém que, como eu, teve as principais escolas no PCP e na IBM.
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