Tudo se complicou quando os discursos substituíram a realidade social pelas vicissitudes da política e as transformações do mundo deram lugar aos fait-divers partidários. Como no mau teatro, os actores foram fingindo que não fingiam, à frente de um cenário que não cessava de desmoronar.
Numa encenação/demissão recente o protagonista não esteve com rodeios. O recém eleito presidente é um parolo que empata a sua visão cosmopolita. O parlamento, eleito no mesmo acto de onde ele extrai legitimidade para governar, é um bando de interesseiros que o impede de continuar a salvar a nação (onde é que eu já ouvi isto?).
Assim sendo, se os eleitos são como ele diz, resta perguntar porque é que continuamos a fazer eleições e a esperar que delas resulte uma solução para o país. O engenheiro e os seus apoiantes, fundados numa razão transcendente que só a eles ilumina, troçarão de qualquer resultado eleitoral que não entrone o padroeiro.
Por isso o período que nos separa do próximo acto eleitoral, que o fanatismo tornará inútil, é uma lenta agonia para o país.
Depois da substituição da realidade pela política assistiremos à substituição da política pelo mais boçal clubismo.
Os devotos de Sócrates, por um lado, e os gentios infiéis, por outro, numa orgia de irracionalidade, como nos estádios, tratarão de forma soez as respectivas mães e gritarão o proverbial "fora o árbitro".
Até que o dinheiro se acabe e venha finalmente o papão.
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