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A propósito da excelente, mas tardia, decisão de recolher a comida não utilizada pelos restaurantes e de a distribuir a quem dela necessite, regressou a retórica da fome.
Chega a ser revoltante ver como tal termo é abusivamente usado entre nós enquanto na África e na Ásia se morre aos milhões, aí sim, de verdadeira fome. A propaganda política e o proselitismo religioso, para não falar na mera voracidade dos que pretendem abocanhar os dinheiros públicos, servem-se despudoradamente da "fome" como bandeira.
Ainda recentemente Cavaco Silva, numa cena deplorável, representou perante as câmaras da TV a sua vergonha por haver portugueses com fome.
Nesta época natalícia não há marca comercial que não queira aparecer como filantrópica pois os especialistas de marketing devem ter convencido o patronato de que a caridade aumenta as vendas. Por outro lado multiplicam-se as ONG destinadas a "ajudar os necessitados" com recolhas gigantescas de donativos.
Com toda esta azáfama somos levados a interrogar-nos se não deviam já ter acabado todos pobres em Portugal, tantos e tão mediáticos são os caridosos.
Mas não, todo este estendal de bondade exposto em público serve mais os seus autores do que os hipotéticos destinatários.
Os números avançados nos jornais parecem basear-se em sensações avulsas e não ter qualquer consistência.
Um trabalho sério e objectivo sobre a matéria continua por realizar deixando o terreno livre para todo o tipo de demagogias.
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