terça-feira, julho 27, 2010

Um mau serviço à democracia

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Sócrates prestou hoje um mau serviço à democracia ao ceder à sofreguidão do aproveitamento político do caso Freeport.
Num país onde as investigações e os processos duram quase sempre muitos anos, são quase sempre noticiados com destaque na comunicação social e raramente conduzem à condenação de pessoas "notáveis", Sócrates não tem qualquer legitimidade para se apresentar como vítima.

Como primeiro-ministro Sócrates devia antes congratular-se com a profundidade e minúcia da investigação e com o facto de tais investigações terem prosseguido durante anos apesar de haver no caso referências a altos dirigentes políticos.
Qualquer homem público de estatura exigirá sempre mais e mais investigação quando o seu nome está em causa em vez de se queixar do sistema de justiça perante o povo na televisão.


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3 comentários:

Manuel Vilarinho Pires disse...

Fernando,

A justiça, ao sistematicamente falhar naquilo para que serve e para que está investida de poderes, a procura de provas de crimes para apresentar em tribunal e conseguir condenações, e substituir esse trabalho pela divulgação pública de suspeitas que conduzem à condenação (por vezes à morte, como no caso do Paulo Pedroso) da reputação dos atingidos, poder de que não está investida, também não tem prestado um bom serviço à democracia...
E quando a divulgação das suspeitas dá alguma luz sobre aquilo que acontece na sombra dentro da própria justiça, é ainda pior.

F. Penim Redondo disse...

Manuel,

concordo contigo no essencial.

Mas o meu ponto é que tem havido muita gente neste país que passou por isso, não foi apenas Sócrates.
Há quem tenha malhado com os ossos na cadeia injustamente, ou perdido os seus bens.

No entanto raros são os que podem chamar a imprensa no horário nobre para zurzir a justiça e os "inimigos".

Manuel Vilarinho Pires disse...

É verdade...
O que não significa que a inépcia da justiça não seja muito mais grave e cause muitos mais danos à democracia que a utilização de tempo de antena pelo Sócrates para se defender, mesmo que as suspeitas possam ter fundamento (e eu, pessoalmente, tenho dificuldade em acreditar que por baixo de tanta parra não haja alguma uva...).