quarta-feira, junho 23, 2010

Esquerda e Direita


Este quadro foi roubado do blog "Tempo Político" onde a Marina Costa Lobo publica um interessante artigo sobre a dicotomia esquerda/direita.

A julgar por este quadro as únicas coisas que parecem distinguir a esquerda da direita, hoje, são a "lei e a ordem" (tão cara ao CDS), a legalidade do aborto (bandeira muito forte do PCP e do BE) e a aversão às querelas partidárias (mais forte à direita do que à esquerda).  Não parece grande coisa.
Ao contrário do que muitos pensam, e dizem, a fortíssima presença do Estado no ensino e na saúde não é apanágio, nem ideia identitária, da esquerda. Se perguntassem sobre o envolvimento e interferência do Estado na actividade económica talvez aí tivessem encontrado alguma clivagem.

Estes dados permitem uma leitura a meu ver mais interessante do que a comparação entre a esquerda e a direita. É a comparação das respostas "de esquerda" entre si.
Metade dos inquiridos "de esquerda" consideram que não é essencial esbater as diferenças entre ricos e pobres.
Como eu já suspeitava temos portanto uma esquerda pouco revolucionária, pouco dada à transformação profunda da sociedade. O cidadão que se julga de esquerda, em linha com o discurso dos principais partidos, satisfaz-se com uma vaga ideia social-democrata baseada em serviços públicos para todos e no assistencialismo de base estatal. Temperada com uns toques fracturantes.

Foi a isto que chegámos depois do longo abandono, pelos partidos de esquerda, de qualquer referência a uma sociedade de novo tipo.

2 comentários:

Vitor M. Trigo disse...

Ora aqui está a confirmação:
A direita não esquece os seus objectivos.
A esquerda alimenta-se da constante revisão de "princípios".

Rogério G.V. Pereira disse...

Quis dar um contributo à discussão do tema, mas não consegui ultrapassar duas dificuldades, a primeira não consegui encontrar um excelente texto do André Freire outra o tentar perceber por factos e não opiniões recolhidas em entrevistas que, em meu entendimento, dão quase sempre origem a distorções de análise...
Tenho tentado, sem sucesso, obter dados sobre votações da Assembleia da República. Iniciativas do PS com votos a favor ou abstenção do PSD e CDS; iniciativas do PSD com votos a favor ou abstenção do PS. Talvez essa análise introduzisse alguma luz nesta discussão. Talvez até possibilitasse o melhor entendimento das palavras de Fernando Nobre (citado no texto da Marina Lobo), quando responde sobre se é de esquerda ou de direita: “Mais do que palavras - acho que as palavras estão gastas e esgotadas - são as acções"...

Quanto à tua conclusão "Foi a isto que chegámos depois do longo abandono, pelos partidos de esquerda, de qualquer referência a uma sociedade de novo tipo.", concordo quase totalmente contigo...
(a parte em que discordo introduziria outra discussão que pode ficar para outra oportunidade)

Abraço