"Se pensarmos nisso, olharmos para o passado ou tentarmos recordar-nos, é provável que acabemos por descobrir que é raro existir alguém que não ponha um ideal ou uma entidade bastante impessoal e abstracta acima das suas relações com as outras pessoas.
Esse nobre conceito é reiterado espontaneamente em todos os tipos de situações e não só é aceite como também desperta reacções elogiosas e de admiração.
As pessoas que o manifestam são geralmente aplaudidas como exemplos de empenho, abnegação, altruísmo e até lealdade. É muito provável ouvi-lo também, com variações, da boca de futebolistas, políticos e guerrilheiros e, obviamente, de nacionalistas e religiosos de todas as crenças, cuja razão de ser é essa mesma.
Eu, por outro lado, considero-a uma afirmação perturbadora, para não dizer aberrante, e faz-me imediatamente desconfiar do seu autor.
Essas palavras implicam sempre que qualquer coisa, frequentemente algo que não existe ou é, no máximo, intangível ou invisível, está acima de tudo o resto e, naturalmente, das outras pessoas: Deus ou a Igreja, a Espanha, a Catalunha, a empresa, o partido, a ideologia, o Estado, a revolução, o comunismo, o fascismo, o sistema capitalista, a justiça, a lei, a língua, esta ou aquela instituição, uma escola, um jornal, um banco, a coroa, a república, o exército, um nome, este ou aquele canal de TV, determinada marca, o Barcelona ou o Real Madrid, a minha família, os meus princípios, o meu país."
No seu desbragado exagero esta tese do escritor Javier Marías, que pode continuar a ler AQUI, contém grandes ensinamentos sobre as raízes do fanatismo.
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