sexta-feira, dezembro 07, 2007

O filme da minha rua

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Esta era a minha rua, onde nasci e vivi até aos 20 anos.
Através de imagens obtidas no Arquivo Fotográfico Municipal posso reviver muito do que foi a minha infância e adolescência. A fotografia que antecede este texto mostra a Avenida General Roçadas que liga a Praça Paiva Couceiro a Sapadores, tal como ela era nos anos 50/60.
Não há nenhum registo fotográfico do prédio em que nasci, que já não existe pois foi substituído por uma nova construção. Era o número 153.



Mais adiante, na mesma rua, está a Escola Nuno Gonçalves, que eu frequentei. Era o chamado ensino preparatório, o primeiro e segundo ano do secundário. Lá conheci o professor Xavier Pintado a quem posso agradecer uma boa parte do meu interesse pelas artes.





Antes de construirem a ponte eu tinha que atravessar este desnível, o Vale Escuro, para ir para a Escola. Também participei em muitas guerras de pedrada, a que chamávamos "púrria", por estes baldios. Cheguei algumas vezes a casa com a cabeça aberta. Eram guerras entre ruas ou bairros.




A ponte veio eliminar a descontinuidade da Avenida que ganhou um novo estatuto na ligação da parte oriental da cidade ao centro.




As vivendas geminadas do "Bairro" estavam mesmo em frente à minha janela, um rés-do-chão. A esquina no lado direito da fotografia era o ponto de encontro da malta, ao fim da tarde, para o bate-boca. O "Bairro" era um brinde do regime aos funcionários públicos, creio eu. Do outro lado da rua, do meu, viviam os trabalhadores e os pequenos comerciantes que ainda não eram muito diferentes dos primeiros.




Onde acabavam as vivendas tinham construído os "prédios novos", no baldio onde durante muitos anos nós brincámos e guerreámos em ambiente campestre. Um desperdício portanto.




A rua continuava e descia para a Praça Paiva Couceiro que era onde estava a Junta de Freguesia, os transportes e o comércio de maior requinte.




Já na Paiva Couceiro estava o Café Chaimite (o toldo vê-se à direita na foto), que a partir de certa altura se converteu na meca das nossas discussões políticas (agora é uma cafetaria sem carácter).
Todos os dias descíamos a rua, a pretexto de estudar no Chaimite, e passávamos horas a conversar e discutir. Foi uma das minhas universidades.
Ainda hoje os amigos de então se reconhecem na designação "a malta do Chaimite"

9 comentários:

Pisca disse...

Caro Amigo:
Obrigado pelas fotos que me levaram de novo pelos caminhos feitos pela mão da minha Mãe, desde a Leite de Vasconcelos na Graça, até à Travessa dos Baldaques, como era enorme a sua rua e depois ainda tinha que subir por ali acima.
Um suplicio cada vez que ela se lembrava de ir comigo até casa dos meus padrinhos e a General Roçadas que nunca mais acabava.
Coisas de Miudos

F. Penim Redondo disse...

De vez em quando há um acontecimento fortuito, como o meu contacto com o Arquivo, que nos remete para as coisas que trazemos dentro de nós, quase sem darmos por isso. É desse material que somos feitos.

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Há um pequeno engano na afirmação de que a General Roçadas ligava a Paiva Couceiro a Sapadores. Só muito mais tarde, penso que já depois do 25 de Abril, é que ligava a Paiva Couceiro a Sapadores. Chegava-se à Paiva Couceiro a partir da R. da Penha de França, pela travessa do Cine Oriente. Penso que o espaço que depois permitiu aquela ligação pertencia ao Quartel de Sapadores. Sei que do lado de Sapadores havia um muro, que depois foi deitado abaixo, e junto do qual no Natal se vendiam perús e pinheiros.

gaspar disse...

Na Escola Nuno Gonçalves conheci os profs.Abel dos Santos, Maria Judite, Mestre Moedas, Inst. Escudeiro da MP, Castelo Branco, O "maneta",etc.
E deixei assinatura em azulejos cosidos na fabrica Viuva Lamego

Estou nos anos 1958/59

Mário Pereira disse...

...e também o chefe dos continuos ,o sr. Azevedo, também o Rocha que nos tirava a bola ,quando nós jogavamos futebol no recreio. O sr. Candido que estava sempre de serviço na porta principal. Depois quando por vezes não havia aulas (uma raridade)lá se dava um salto até à Luisa de Gusmão para dar uma espreitadela nas miudas, ou então jogar futebol para o Campo dos Padres.Depois seguiu-se a Marinha...

Mário Pereira disse...

Apenas mais um pequeno apontamento,tudo aquilo que ficou descrito no meu anterior apontamento se passou nos anos 1961 e 1962. Só em 1967 me alistei na Marinha, tendo saido em 1975.

João Morgado disse...

Também eu sou dos anos 58/59 como o Gaspar. Teríamos sido colegas? Lembro-me da professora de matemática Isabel Castanheira.
Penso que o Jorge Nascimento tem razão, a General Roçadas terminava logo a seguir à escola e só muito mais tarde foi ligada a Sapadores.
Um abraço
João Morgado

Victor Jesus disse...

A foto que menciona como sendo da Av. General Roçadas (a primeira foto) e na realidade da Av. Afonso III. Poderá surgir dai a dificuldade em não encontrar o prédio onde viveu.
Excelente trabalho e Obrigado por me ter conduzido atraves destas fotos e deste texto às minhas origens!
Cumps
Victor de Jesus

F. Penim Redondo disse...

Caro Vitor Jesus, obrigado pelo seu comentário. Na verdade o prédio em que nasci foi demolido há muito.