quarta-feira, agosto 15, 2007

A globalização na Almirante Reis


Hoje é 15 de Agosto, a charneira das férias. Depois de algumas experiências deprimentes habituei-me a ficar em Lisboa nesta data.
Saí em busca de um almoço e, na Almirante Reis, fui irresistivelmente atraído por soberbas sapateiras que, da montra, pareciam acenar as tenazes num convite. Cedi.
A cervejaria, que eu já frequentara, pertence à categoria dos exclusivos portugueses; frutos do mar fabulosos num ambiente descontraído e a preços suportáveis. Só por causa disto os portugueses já deviam ter aprendido a queixar-se menos da vida.
Qual não foi o meu espanto quando deparei com duas mesas grandes, duas, cheias de "chineses" que se empanturravam com percebes, lagostas, búzios, camarões, etc.
Dei por mim a imaginar lucros enormes nas lojas dos trezentos mas desconfiei pois nunca vi, em Portugal, chineses que não estivessem a trabalhar.
Uma delas puxou de uma senhora de Fátima com pelo menos meio metro e eu pensei que se tratava de um modelo que, em Guangzhou, acabaria replicado milhões de vezes.
O empregado não tinha explicação para o fenómeno e despachou-me com "parece que são uns indonésios...". Eu estava morto de curiosidade.
A certo ponto um casal idoso pagou a conta e retirou-se deixando os jovens às voltas com o marisco. Resolvi interceptar um "ocidental", que fazia parte do grupo, quando ele tentava alcançar o WC.
Que não, que não eram chineses mas sim vietnamitas em turismo. E que ele, americano, se casara com uma das moças de olhos em bico. Desejei-lhes uma agradável estadia, embevecido.
Confesso que ainda hoje a palavra Vietname ecoa de forma muito especial dentro de mim. Napalm, Hanoi, Ho Chi Min e outras, são ecos do heroísmo colectivo de um povo que, nunca mais esquecerei, recusou submeter-se à maior potência militar da terra.

Por isso, vê-los ali a descascar camarões e a embrulhar senhoras de Fátima como nós fazemos com os Budas no regresso da viagem, atingiu-me como um milagre.

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