Acabei de ler, em odiario.info o texto de uma entrevista com dois professores, Marcio Pochmann e Ricardo Antunes, da Universidade de Campinas.
O titulo prometia muito, mas o conteúdo desiludiu.
É verdade que M. Pochman considera que estamos a viver um momento de “profunda mudança na base técnica”; constata que estamos num “capitalismo pós-industrial em que a produtividade é cada vez mais sustentada no trabalho imaterial… em que não é mais o relógio que organiza decisivamente o tempo de trabalho”; intui mesmo que “continuamos discutindo as condições de trabalho como herdeiros do sec. XX”.Mas afinal acaba preocupado apenas em quebrar aquilo a que chama “a falsa disjuntiva neo-liberal“, ou seja a escolha entre precarização e desemprego.
Segundo ele, o desenvolvimento tecnológico e a prevalência crescente do trabalho imaterial como fonte de valor, já hoje permitiriam que todos trabalhassem, desde que durante menos horas, menos dias na semana. E desde que, como sublinha R. Antunes, o Estado tomasse medidas contra as politicas neo-liberais.Esta intervenção do Estado torna-se, de facto, indispensável porque não se vê muito bem como de outra forma convencer os patrões a contratar, em vez de 10 pessoas trabalhando 40 horas por semana cada uma, 40 pessoas a trabalhar 10 horas cada, mas recebendo cada um o mesmo salário do caso anterior…
Este é o “nó górdio” da questão. Porque os autores não pôem em causa o sistema capitalista, baseado no assalariamento, e em cuja lógica o lucro representa não só a remuneração do capital mas também a compensação pelas responsabilidades e pelos riscos assumidos. Pretendem apenas levá-lo, a bem ou à força, a “aceitar” a diminuição dos seus lucros, continuando no entanto a assumir todos os riscos e responsabilidades, principalmente a de “dar emprego”.
Os autores comungam de uma confusão muito comum entre emprego, trabalho e assalariamento. Conclusão: o trabalho é indispensável às sociedades humanas, logo as empresas têm de proporcionar emprego. E se tal não fizerem, porque as condições objectivas as conduziriam a resultados contrários à sua real finalidade, o lucro, então o Estado deve tomar o seu lugar.
Os autores constatam que a revolução tecnológica e as alterações da natureza e organização do trabalho potenciam grandes ganhos de produtividade, mas não dão o salto para a necessidade de desenvolver o novo tipo de relações de trabalho e de produção que elas estão a gerar e que não passa pelo assalariamento.São eles próprios que dizem que não vale a pena sonhar com “um capitalismo justo e belo onde todos vivam segundo as regras das mesmas oportunidades”.
No entanto, nada propôem que substitua o odiado sistema!Nada, a não ser a intervenção do Estado, especialmente através de Governos fortes, com grande respaldo popular, como os várias vezes referidos de Chávez e Morales.
Ora todas as revoluções, das mais suaves às mais sangrentas, já demonstraram que as medidas super-estruturais só vingam quando institucionalizam práticas sociais e económicas já “referendadas” pela realidade, que já demonstraram a sua capacidade endógena de propagação.
Continua-se, portanto, a querer começar pelo fim!
1 comentário:
Muito boa reflexão.
Gostaria apenas de realçar que o mal não reside em alguns continuarem a querer começar pelo fim, mas em uns e outros continuarem a querer começar, seja pelo fim, seja pelo princípio.
Novas relações sociais não são coisa de desejo, de querer. Acontecem quando existem condições para tal, sem que os seus actores tenham consciência de que as estão estabelecendo. Para eles, tudo parece igual, ou quase, e contudo estão inovando, aos poucos, até que esse novo se distingue com clareza do velho.
JMC.
Enviar um comentário