O Estado e o impasse da esquerda actual (texto 2)
O genial Marx ainda hoje é uma referência para quase toda a gente, mesmo para quem o combate ou para quem nem conhece o seu nome.
Ele anteviu o fim do capitalismo na sequência de uma brutal proletarização e pauperização da sociedade, mas a realidade seguiu outros caminhos. A invenção do Estado Social impediu uma pauperização extrema e, hoje, a revolução tecnológica proporciona lucros sem trabalho vivo, atirando para fora do assalariamento milhões de trabalhadores. O fim do capitalismo acabará provávelmente por resultar não da total proletarização, como ele dizia, mas sim do definhamento do trabalho assalariado.
A crise do assalariamento na produção, levou à transferência do grosso da criação de mais-valias para a fase da distribuição das mercadorias e para a especulação financeira. Era preciso garantir que os cidadãos, com cada vez menos empregos assalariados, continuassem apesar disso a ser explorados enquanto consumidores (se possível compulsivos).
Esta aparente “quadratura do círculo” foi resolvida pela manipulação do Estado pelas classes dominantes.
O Estado faz "redistribuição" de rendimentos através dos impostos, ou seja, transfere recursos das classes médias que podem não gastar tudo o que ganham para aqueles, mais pobres, que gastarão tudo o que receberem.
Como isto não é suficiente o Estado endivida-se para injectar dinheiro na economia (ou seja criar clientes para a empresas) lançando as consequências e os pagamentos para as gerações futuras.
O tão incensado Estado Social tem neste processo um papel muito importante; ao convencer as pessoas de que não precisam de amealhar para a velhice, desemprego ou doença reforça a propensão para o consumo imediato.
O consumismo, o crédito e a especulação financeira têm portanto que ser compreendidos como um recurso do capitalismo para se perpetuar apesar da relação em que se baseia, o assalariamento, atravessar uma crise profunda.
A esta luz é mais fácil compreender por que é que as associações patronais concordam com o aumento do salário mínimo; não se importam que os patrões industriais paguem mais para que os patrões do comércio, da distribuição e da banca, que são quem manda, possam ter mais clientes.
Pela mesma razão mantêm há décadas o congelamento das rendas para que os inquilinos em vez de darem o dinheiro aos senhorios o possam gastar nos hipermercados.
Por trás de toda a retórica igualitária, no quadro do sistema económico, é este o papel do Estado burguês. Como Marx, aliás, ensinou.
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