quinta-feira, outubro 11, 2012

O Regresso do Descrédito




 
Até ao 25 de Abril nunca tive televisão em minha casa. Sempre me pareceu, nesses tempos, que era uma inutilidade pois estava completamente desfasada da realidade do país.
Nos últimos tempos comecei, de novo, a ter essa sensação. Os exageros das TVs são tais que alguém, retido em casa durante uns tempos, que resumisse a sua informação ao que dizem os pivots e comentadores, quando saísse de novo à rua esperaria encontrar pessoas morrendo de fome pelos cantos, polícia política filando dissidentes e a Torre de Belém em ruínas.
Se durante o fascismo a realidade televisiva era toda cor de rosa, por ordem do governo, agora a realidade é toda tenebrosa porque as televisões acham que é necessário correr com o governo antes que ele privatize a RTP.
Ainda me recordo do encantamento que sentimos, depois da Revolução, por ver o nosso dia-a-dia no ecran; como nunca tínhamos visto.
Agora os factos são subterrados pelos comentários. Cada vez mais ouvimos comentar copiosamente factos, ou declarações, que desconhecemos.
Os comentadores começaram por ser uma presença discreta nos noticiários (que, como o próprio nome indica deveriam dar notícias); a pouco e pouco impuseram a sua omnipresença e, na fase final deste processo, os próprios pivots decidiram também transformar-se numa espécie de comentadores.
O governo, faça ele o que fizer, foi eleito pelos portugueses. Os donos das televisões são um poder sem rosto que ninguém elegeu e que ninguém escrutina.

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