Era uma vez duas barcas que se perderam no mar, com céu nublado e sem estrelas, sem instrumentos de navegação, num tempo remoto em que não havia GPS.
Levantou-se algazarra sobre que direcção tomar, e foi tão grande que resolveram fazer uma votação.
Se bem o pensaram melhor o fizeram. Numa delas ganhou o norte e na outra venceu o sul.
A do norte, após calar os recalcitrantes, desatou a remar e alcançou terra firme quinze dias depois, já sem água potável e quase sem esperança.
Na aldeia a que aportaram ficaram a saber que, se tivessem rumado a sul, teriam encontrado terra firme em três parcos dias. Voltou a algazarra e houve muitas cabeças partidas mas salvaram-se todos.
A do sul, apesar da votação, não conseguiu sair do local onde se encontrava no meio do mar. Havia quem discordasse do resultado e se recusasse a remar. Houve mesmo quem tivesse arremessado os remos borda fora como protesto contra a burrice dos outros votantes.
As discussões continuaram até que a água se acabou e as gargantas secaram.
A partir desse ponto só por gestos se agrediram enquanto o sol não os queimou também.
Ainda hoje a barca à deriva, carregada de ossos, ameaça dar à costa num lugar qualquer.
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