domingo, novembro 07, 2010
A verdadeira história do acordo
Publicado por
F. Penim Redondo
Se não fossem os dois velhotes, o país ficava sem massa para mandar cantar um invisual
Onde o nosso Comendador (autor da fotografia de Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga a assinar uns papéis) revela, em rigoroso exclusivo, a conversa entre os dois que conduziu à aprovação do OE
Agora que todo o país viu a fotografia dos dois velhotes a assinar a papelada e que se espera sinceramente não haver mais problemas, posso revelar que fui eu quem tirou a fotografia. Podem perguntar: que raio estava um Comendador já muito entrado de idade a fazer em casa de Eduardo Catroga quando este discutia o futuro do país com Teixeira dos Santos? A minha resposta é simples: Não têm nada a ver com isso!
A coisa foi assim. O Teixeira telefonou ao Catroga e este convidou-o a beber um chá de tília lá em casa. Aceite o convite, o Teixeira entrou e disse:
— Boa tarde! Trago aqui uma proposta nova...
— E corta na despesa?
— Sei lá, eu já não percebo nada disto, achas que eu me entendo com estes números todos?
— Eu também não, mas se pudermos dizer que corta na despesa eu digo ao miúdo e ele fica todo contente.
— Mas eu não posso dizer ao meu que corta na despesa. Dá-lhe uma birra que ainda me parte a cabeça!
— A Merkel não lhe falou?
— Deve ter falado! Falou com o teu?
— Falou, no PPE...
— Hummm... Então dizemos que corta na despesa...
— E as deduçõezinhas?
— Vai a meias. Quantas queres?
— Só o sexto e o sétimo escalão. O miúdo não queria nenhuma, mas eu convenço-o. E no que cedes mais?
— Não me venhas com cedências que o Sócrates não gosta...
— Mas isto é só para chatear o Sócrates, ou achas que estou aqui a fazer o quê? A tornar melhor uma porcaria de OE que não tem pés nem cabeça?
— Olha que não é assim tão mau...
— Bebe o chá, anda. Dá-me lá uma cedência... Já me deixaste a secar quatro horas ainda me zango contigo!
— Só se tu me deres outra. Convence lá o Passos...
— Ok, cedemos os dois. Achas bem?
— Acho, assina aí!
— Assino o quê?
— Um papel qualquer, para o Comendador tirar uma fotografia que amanhã podes mostrar aos jornalistas.
— Mas fizeste as contas?
— Ah...
— Pois... eu também não!
— Para quê? Eu por mim tinha fechado isto há mais de um mês!
— Também eu, mas eles lá sabem...
— Pronto, já assinei, toma lá a caneta.
— Venha ela... Ah... espera aí um bocado, não sais daqui sem acabar o Conselho de Estado.
— Vamos ver televisão, está a dar o Porto.
— Não vês futebol nenhum cá em casa. Ficas à espera que o Passos telefone e eu lhe conte...
— Vá lá, deixa-me ver o Porto!
— Queres negociar isso, também?
— Se me deixares ver o Porto dou-te mais uns pós.
— Tipo quê? — Sei lá, mantém-se o leite achocolatado a 6%.
— Vê lá o Porto, mas olha que esta parte é secreta.
— E na especialidade abstêm-se, ouviste?
— Claro. Bem, podes ir embora. Vemo-nos amanhã...
— Adeus, Eduardo, ainda vamos ter saudades disto.
E, separaram-se com a sensação do dever cumprido. Tinham feito mais um serviço à Pátria. Doravante, sempre que pensardes no país, pensai nos velhotes que, salvando-o da bancarrota, vos meteram a vós nela.
Comendador Marques de Correia, Expresso 06.11.2010
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Não resisti a transcrever esta pérola.
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