Numa das suas Crónicas publicadas ao Sábado na revista XIS, Daniel Sampaio coloca com grande clarividência e não menor simplicidade as questões básicas que deviam constituir a base de qualquer politica séria de educação em Portugal.
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As escolas e o futuro governo
autoria de Daniel Sampaio
Terminadas as eleições e com o governo em formação, importa reflectir sobre o futuro das escolas básicas e secundárias, dos seus professores, alunos e pais.Importa começar pelo princípio: os nossos alunos aprendem pouco e mal. Mesmo os bem classificados escrevem com erros e têm dificuldades nas contas. A indisciplina invadiu as nossas escolas e, nalguns locais, aparece associada a comportamentos de violência. Os professores mostram sinais de cansaço e desmoralização, muitos andam em tratamento psiquiátrico, para depois serem colocados nas tristes bibliotecas escolares, a impedir o acesso à pornografia da Internet de jovens com problemas. Os pais ou não aparecem nas escolas, ou são criticados por não tomarem bem conta dos filhos. E, todavia, há professores excelentes: na sua maioria conseguem, à custa de grande esforço pessoal, ensinar qualquer coisa; e muitos alunos evoluem com êxito.
O próximo governo tem de enfrentar com coragem o problema. Até ao 9° ano, avaliar com rigor quais os alunos que querem (ou podem) prosseguir a via tradicional do estudo e ingressar no secundário; e quais aqueles que querem (ou necessitam) aprender um ofício, através de uma correcta formação profissional básica. Para ísso, devem ser de imediato postos em prática modelos diferentes de ensinar na escola básica, com avaliação do progresso dos alunos e das metodologias de ensino. Não poderemos continuar a ter nas nossas escolas alunos que claramente estão vocacionados para outro tipo de aprendizagens, nem escolas únicas, monolíticas, do Minho ao Algarve- O abandono escolar tem de ser corrigido com uma correcta política de intervenção junto das famílias, bem como da adaptação dos currículos escolares às características dos alunos e aos objectivos, previamente definidos, da formação escolar básica.
Na formação de professores, é preciso mudar. É crucial dotar as escolas de docentes com formação em técnicas pedagógicas diferenciadas, com realce para as metodologias activas, capazes de transformar as turmas em grupos de trabalho cooperativo. A informação psicologizante ou abstracta, tão do agrado de muitos formadores que desconhecem a realidade das nossas escolas, deve ser abandonada. Os professores têm de ser ajudados a olhar em volta, perceber quais os recursos da comunidade onde se inserem, estabelecer protocolos com outras escolas, buscar soluções no Centro de Saúde ou na equipa de Saúde Mental da zona. O papel dos psicólogos não poderá a ser o de consultores dos alunos, mas sim o de parceiros (com outro olhar) dos docentes, no entendimento dos jovens com dificuldades no percurso psicossocial.
No secundário, muito há a fazer. Já percorreram as pautas e viram aquela impressionante série de negativas? Já viram o número de alunos que abandona no 10° ano? Não é de admirar. Foram levados ao colo até concluir o 9° ano, confrontam-se agora com um secundário maçador e mais exigente. É urgente permitir a mobilidade de uns agrupamentos para outros, através de um correcto sistema de créditos, que possibilite a progressão sem o aluno ter de voltar sempre ao princípio; deve ser iniciada uma campanha muito forte, a todos os níveis, de valorização do ensino tecnológico e técnico- profissional. Os alunos que não progridam devem ser encaminhados, com carácter de urgência, para uma formação profissional adequada.
Limitei-me a algumas notas. Querem contribuir com mais ideias?
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