quarta-feira, março 09, 2005

As escolas e o futuro governo






Numa das suas Crónicas publicadas ao Sábado na revista XIS, Daniel Sampaio coloca com grande clarividência e não menor simplicidade as questões básicas que deviam constituir a base de qualquer politica séria de educação em Portugal.
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As escolas e o futuro governo
autoria de Daniel Sampaio

Terminadas as eleições e com o go­verno em formação, importa reflec­tir sobre o futuro das escolas básicas e secundárias, dos seus professores, alunos e pais.Importa começar pelo princípio: os nossos alunos aprendem pou­co e mal. Mesmo os bem classifica­dos escrevem com erros e têm difi­culdades nas contas. A indisciplina invadiu as nossas escolas e, nalguns locais, aparece associada a compor­tamentos de violência. Os profes­sores mostram sinais de cansaço e desmoralização, muitos andam em tratamento psiquiátrico, para depois serem colocados nas tristes biblio­tecas escolares, a impedir o acesso à pornografia da Internet de jovens com problemas. Os pais ou não apa­recem nas escolas, ou são criticados por não tomarem bem conta dos fi­lhos. E, todavia, há professores exce­lentes: na sua maioria conseguem, à custa de grande esforço pessoal, en­sinar qualquer coisa; e muitos alu­nos evoluem com êxito.
O próximo governo tem de enfren­tar com coragem o problema. Até ao 9° ano, avaliar com rigor quais os alunos que querem (ou podem) prosseguir a via tradicional do es­tudo e ingressar no secundário; e quais aqueles que querem (ou ne­cessitam) aprender um ofício, atra­vés de uma correcta formação profis­sional básica. Para ísso, devem ser de imediato postos em prática modelos diferentes de ensinar na escola bási­ca, com avaliação do progresso dos alunos e das metodologias de ensi­no. Não poderemos continuar a ter nas nossas escolas alunos que clara­mente estão vocacionados para ou­tro tipo de aprendizagens, nem es­colas únicas, monolíticas, do Minho ao Algarve- O abandono escolar tem de ser corrigido com uma correcta política de intervenção junto das fa­mílias, bem como da adaptação dos currículos escolares às característi­cas dos alunos e aos objectivos, previamente definidos, da formação es­colar básica.
Na formação de professores, é preci­so mudar. É crucial dotar as escolas de docentes com formação em técni­cas pedagógicas diferenciadas, com realce para as metodologias activas, capazes de transformar as turmas em grupos de trabalho cooperati­vo. A informação psicologizante ou abstracta, tão do agrado de muitos formadores que desconhecem a re­alidade das nossas escolas, deve ser abandonada. Os professores têm de ser ajudados a olhar em volta, per­ceber quais os recursos da comuni­dade onde se inserem, estabelecer protocolos com outras escolas, bus­car soluções no Centro de Saúde ou na equipa de Saúde Mental da zona. O papel dos psicólogos não poderá a ser o de consultores dos alunos, mas sim o de parceiros (com outro olhar) dos docentes, no entendimento dos jovens com dificuldades no percur­so psicossocial.
No secundário, muito há a fazer. Já percorreram as pautas e viram aquela impressionante série de ne­gativas? Já viram o número de alu­nos que abandona no 10° ano? Não é de admirar. Foram levados ao colo até concluir o 9° ano, confrontam-se agora com um secundário maçador e mais exigente. É urgente permitir a mobilidade de uns agrupamentos para outros, através de um correc­to sistema de créditos, que possibi­lite a progressão sem o aluno ter de voltar sempre ao princípio; deve ser iniciada uma campanha muito for­te, a todos os níveis, de valorização do ensino tecnológico e técnico- pro­fissional. Os alunos que não progri­dam devem ser encaminhados, com carácter de urgência, para uma for­mação profissional adequada.
Limitei-me a algumas notas. Que­rem contribuir com mais ideias?

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