segunda-feira, maio 25, 2009

A mentira das imagens (2)

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Eu cresci numa casa onde os livros eram um objecto raro. Teria eu uns cinco ou seis anos (nasci em 1945) a Editorial Século, ligada ao jornal que então ostentava esse nome, publicou dois grandes e grossos volumes intitulados "50 Anos da História do Mundo, 1900-1950".

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Por razões que desconheço o meu pai, que fazia comércio com artigos de segunda-mão, adquiriu estes enormes livros, que eu tinha dificuldade em mover, e resolveu levá-los para casa. Foram aquelas 1400 páginas pejadas de fotografias que fizeram as vezes da televisão que então não existia.
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O primeiro volume era integralmente dedicado à política internacional enquanto que o segundo continha vários capítulos dedicados às artes e terminava com a parte relativa ao meio século português.
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Vem tudo isto a propósito de algumas reflexões que tenho feito acerca da minha atracção pelas imagens e da importância que lhes atribuo no processo da comunicação em competição ou complemento com os textos. Tenho-me interrogado sobre as razões de tal sortilégio.
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Creio que o meu contacto com este enorme livro ilustrado, numa fase do meu desenvolvimento em que não conseguia compreender o alcance dos textos e não tinha ninguém que me ajudasse a descodificá-los, deve ter estado na origem do meu interesse pela imagem e, em particular, pela fotografia.
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Passei a vida a reencontrar as imagens que descobrira nas longas horas que passava a folhear o livro e, ainda hoje, algumas dessas imagens são referenciais para mim. Quadros de Picasso ou Klee, rostos de compositores ou poses de bailarinos, ficaram impressas na minha memória com enorme força, numa época em que as imagens ainda não proliferavam por todo o lado.
Quando perante uma imagem sou atacado pelo "déjà vu" suspeito sempre de que seja apenas mais um afloramento do calhamaço.
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Em Abril iniciei estas deambulações sobre as imagens e o seu significado (ver aqui).
Dentro em breve voltarei a este tema que me interessa bastante.
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