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Uma entidade idónea a "Intercampus", considerada competente, conduziu para a SEDES um inquérito onde entre outras coisas se conclui:
- só 5% dos inquiridos acham que os "governantes têm muitas vezes em conta as opiniões dos cidadãos"
- só 12% dos respondentes pensa que "as pessoas como eu têm influência sobre o que o Governo faz"
- só 9% declaram "os políticos preocupam-se com o que pensam as pessoas como eu"
- só 8% considera que "quem está no poder não busca sempre os seus interesses pessoais"
Confirmando a validade destas opiniões os visados, a chamada "classe política", assobiou para o lado como se nada tivesse acontecido.
É caso para perguntar: ninguém se demite ? ninguém tem vergonha na cara ? quando é ao povo não faz mal acenar com os corninhos ?
Esta olímpica indiferença radica na convicção de que o povo é uma espécie de receptáculo para onde se atiram doses sucessivas de "esclarecimento" até que se porte bem. O povo acabará por perceber os altos desígnios, quer queira quer não.
Ainda recentemente os partidos insistiram em prolongar as campanhas eleitorais através do desfasamento das datas das legislativas e das autárquicas. Ninguém cuidou de saber qual era a opinião dos destinatários.
Como este inquérito mostra as pessoas comuns não pretendem ser mais "esclarecidas" por quem consideram incompetente para o fazer. Estão fartas de campanhas que se parecem demasido com a venda de sabonetes e de querelas entre exaltados "magos" que têm sempre na manga a solução redentora até lhes ser dada oportunidade de a pôr em prática.
Depois da abstenção em massa viremos talvez a assistir, num futuro próximo, à proliferação de autocolantes amarelos desesperados. Talvez assim eles percebam que está na hora de refundar a nossa democracia.
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10 comentários:
E as "pessoas comuns" não terão nada a ver com isto?
A democracia não será um regime em que todos somos responsáveis?
Abstenção, autocolantes amarelos, e conversa como a deste post não serão sinais que estamos a desistir da democracia?
E quem serão os "eles" que vão refundar a democracia? Normalmente esses "eles" estão mais voltados para refundar o 28 de Maio.
E se tal como na 1ª Republica os principais responsáveis são os políticos, nós todos também temos culpas no cartório ao deixar isto chegar a este estado.
Caro anónimo,
é precisamente por me sentir também responsável que faço este alerta. Mas não tenho dúvidas de que os mais responsáveis são aqueles que, quase como uma casta, ocupam as cadeiras do poder.
A culpa do estado a que chegámos não se pode diluir de tal maneira que torne impossível corrigir os erros.
Não estou nada interessado em ter que lutar de novo, já depois de velho, contra uma nova ditadura.
A forma como os políticos ignoram estes sinais do "povo" reside no facto de pressuporem que não há alternativa, que andaremos sempre uns e outros como os antigos marinheiros entre Cila e Caribdis. Claro que há alternativas, dentro e fora do regime, ou do sistema. Claro quando há este tipo de percepção por parte dos cidadãos e os eleitos não se preocupam em refundar o sistema aproximando-o daqueles, mais cedo ou mais tarde virão os tais de que o Anónimo falava, os do 28 de Maio.
Caro Rui,
o problema é que as pessoas têm a memória curta e pensam, à revelia da história, que a liberdade é um adquirido para sempre
Caro Fernando sem querer comentar o teu post com o qual no essencial não concordo, só queria fazer referência à tua afirmação: “Ainda recentemente os partidos insistiram em prolongar as campanhas eleitorais através do desfasamento das datas das legislativas e das autárquicas. Ninguém cuidou de saber qual era a opinião dos destinatários.”
Neste caso os destinatários eram os partidos e competia a eles pronunciarem-se sobre o assunto. Porque se o Presidente tivesse passado por cima deles e baseando-se numa sondagem que ninguém sabe qual foi, teríamos o caldo entornado. Ou seja, em eleições a que os partidos concorrem o Presidente deixava de ouvir as suas opiniões e passava a ouvir o “povo”. Estaríamos perante um grave desrespeito ao sistema partidário português e a um forma ditatorial de exercer funções.
Mas fica descansado que a mais recente sondagem da “Eurosondagem” deu que os portugueses preferiam eleições em datas separadas.
Caro Jorge,
realmente os "destinatários" da nossa democracia são cada vez mais os partidos que correm o risco de ficar a funcionar em circuito fechado, à margem da população.
Não conheço a sondagem que referes nem outra qualquer sobre esta matéria.
Tu partes do princípio que os partidos estão a expressar uma opinião que não seria maioritária nos votantes. Que te leva a pensar assim? A única solução, por absurdo, era fazer um referendo à população a saber o que preferia, se eleições no mesmo dia se em dias separados. Parece-me que isso era irrealizável. Por isso o Presidente teve seguir a opinião maioritária entre os partidos já que eram eles que concorriam às eleições. Ora o Presidente alegou, no início, que havia umas sondagens que indicavam que o “povo” preferia eleições no mesmo dia. Mas como não disse que sondagens é que eram, nem quem as tinha feito, foi criticado por isso. Ora sucede que “Eurosondagem” realizou umas, que me parece que foram para o Expresso, mas que eu vi num site da TSF em que havia uma maioria a defender as eleições em datas separadas.
Portanto parece-me que isto é claro. Agora tu que achavas que as eleições deviam ser no mesmo dia, começas logo a acusar os partidos por não fazerem aquilo que tu gostavas que acontecesse. Mau princípio.
Caro Jorge
Eu não vi sondagem nenhuma sobre este assunto.
Limito-me a reflectir as opiniões ouvidas aqui e ali, das pessoas que não têm militância política.
Estou convencido de que essas pessoas, que são a larga maioria, preferia "matar dois coelhos de uma cajadada".
Claro que aqueles que pensam que têm uma verdade importantíssima para revelar ao povo gostariam, caso fosse possível, de passar o ano todo em campanha.
Tanto quanto sei o PR tem que ouvir os partidos mas não é obrigado a seguir aquilo que alguns, ou mesmo a maioria, prefere. Tu só exiges que ele respeite a maioria porque isso corresponde à tua opinião, se fosse ao contrário não concordarias certamente.
Continuo a pensar que os partidos pensaram acima de tudo nos seus cálculos eleitorais em vez de dar prioridade à protecção do regime democrático e da sua credibilidade.
Há sempre uns que pensam que interpretam a realidade sem para o facto terem qualquer base de sustentação. Se te estou a referir que houve uma sondagem da eurosondagem que afirmava aquilo que disse, não é por tu não a veres que ela não existiu. Esta é a única base de sustentação para se poder formular o que é que a opinião pública pensa. O resto são palpites avulsos de quem tem a priori um parti-pris contra os partidos.
Jorge
Caro Jorge, não é por tu dizeres que houve uma sondagem que ela passa a existir. Podes estar a fazer confusão.
Eu fartei-me de procurar a tal sondagem na net e não a encontrei.
Por isso, enquanto não for apresentada a tal sondagem e avaliadas a perguntas e as respostas, não tenho outro remédio senão pensar aquilo que a realidade vivida me mostrou.
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