terça-feira, março 27, 2007

O Maior Português de Sempre




Não vale a pena ensaiar grandes análises sociológicas à volta do resultado do “Maior português de sempre”.

Não passou de um concurso tipo “Chuva de estrelas” onde os grupos de pressão têm campo livre face à muito generalizada preguiça/indiferença do publico.
Não sendo provável que existam fanáticos de Camões ou um lobby de D. Afonso Henriques, manifestaram-se os 3 grupos com capacidade para mobilizar activistas telefónicos: os neo nazis, os comunistas e os judeus. (Arrisco o palpite de que se entre os concorrentes estivesse algum assumidamente “gay”, teria sido o vencedor...)

Convém também não esquecer que a personagem de Santa Comba foi simultâneamente brindada com o troféu de “O pior português de sempre” (organização do Inimigo Publico e do Eixo do Mal).

Não me parece que se possa presumir de tudo isto que os portugueses têm saudades da ditadura ou que há uma investida da extrema direita contra a democracia.
E muito menos se deve fazer figuras tristes clamando com a inconstitucionalidade, numa histeria politica que ombreia com o folclore dos próprios factos.
O melhor que há a fazer é não falar mais no assunto para não lhe dar a publicidade que ele não merece.

Se receamos que a sociedade portuguesa esteja a ficar predisposta para ouvir os cantos de sereia ditatoriais, o que há a fazer é denunciar e combater as práticas que levam as pessoas a desiludirem-se com a politica e os políticos (a corrupção, a incompetência, a burocracia, o nepotismo, a prepotência, o laxismo, o peculato, etc).

O resto, é folclore.

1 comentário:

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Penso que o teu comentário reafirma aquilo que eu disse. Também não acho, e não afirmo isso, que haja neste momento um perigoso afloramento fascista na sociedade portuguesa. Quis simplesmente mostrar, tal como tu, a vacuidade de um concurso como este e a má apresentadora que foi Maria Elisa sempre pronta a defender a seriedade e o valor cultural e pedagógico do seu concurso, seleccionando de forma arbitrária e comprometida ideologicamente os seus intervenientes. No fundo, aconteceu-lhes aquilo que eles provavelmente não queriam, ganhou o Salazar. Nas devidas proporções, é como se o Hitler tivesse ganho na Alemanha, seguido do Eric Honecker.
Acho, no entanto, com o comedimento que nos dita o bom senso, que este concurso e os seus objectivos e o trabalho ideológico da sua apresentadora devem ser denunciados, não podemos ignorar o que nos cerca, pois é disto que se alimenta o grande público. O desmontar diário do que era a televisão fascista foi o trabalho ingrato do Mário Castrim durante anos e que, quanto a mim, teve grande eficácia.