Circulam no espaço público, a propósito da crise, algumas leituras equívocas e mistificadoras:
1. Quando se diz "os cortes na saúde vão prejudicar os doentes" está-se a omitir que os cortes, eles próprios, não são causa mas sim consequência do empobrecimento anterior e do endividamento do país.
2. Quando se discursa sobre os direitos adquiridos e o "retrocesso civilizacional" está-se a escamotear que tais coisas só existem enquanto houver recursos materiais para as manter.
Nada, nem ninguém, está em condições de garanti-las incondicionalmente e é por isso que há no mundo países em que se morre de fome ou por falta de cuidados médicos elementares.
3. Discute-se a crise, quase sempre, como se a superação significasse um regresso à situação económica e social que antecedeu a sua eclosão.
Trata-se de uma mistificação pois o que está a suceder, para já, é uma tentativa de aterragem de emergência dois degraus mais abaixo, correspondentes ao empobrecimento que o nosso país registou nos últimos anos e que a crise se limitou a desvendar.
Por isso há que assumir que no fim desta aterragem de emergência, e esperemos que seja suave, estaremos todos em geral mais pobres.
4. Quem diz estar à espera de ver quais são as medidas do governo para relançar o crescimento económico, e voltar a subir os degraus do desenvolvimento, parece não perceber o essencial.
O desenvolvimento económico depende essencialmente das escolhas e decisões dos cidadãos, das empresas e de outras organizações produtivas. Se estes agentes não decidirem, de forma massiva, aumentar a produtividade e gerar mais riqueza, dentro do país, não há governo que nos valha.
4 comentários:
E quem é que ensina as pessoas a ler correctamente o que lhes é dito??? Como é que vão saber interpretar o que é escrito nos jornais? Quem é as vai ajudar a lembrar que "a crise" não começou agora mas se tem vindo a desenvolver (como erva daninha) há já uns bons e compridos anos? Quem é que tem coragem para dar nome aos que são grandes responsáveis? Essa é a parte que falha, todos os dias, sempre que se fala na crise e isto e aquilo.
A evolução do PIB nos últimos 10 anos (ver abaixo) mostra que apesar do crescimento ser mínimo NÃO HOUVE EMPOBRECIMENTO do País (se recuarmos às décadas anteriores o desempenho é um pouco melhor).
O que há é uma muito desigual repartição da riqueza, agravada por uma fiscalidade que beneficia os mais ricos e assenta basicamente em quem trabalha.
As medidas que estão a ser tomadas devido à alegada FALTA DE DINHEIRO, é que vão provocar recessão e um efectivo empobrecimento do País, o que conjugado com as desigualdade da repartição irá conduzir o País para um buraco sem fundo.
O problema é que este Governo não está lá para nos valer, mas para valer aos que continuam a engordar à nossa custa, que nos prometeram que quando entregássemos a Banca, a Industria e as terras aos privados íamos todos viver bem e ser muito felizes, e agora querem fazer mais umas negociatas à custa da água, da Saúde, da Educação, e das Reformas.
Nos ultimo 10 anos foi esta a evolução do PIB
2001 2.0%
2002 0.7%
2003 -0.9%
2004 1.6%
2005 0.8%
2006 1.4%
2007 2.4%
2008 0.0%
2009 -2.5%
2010 1.3%
O que era interessante era ver como evoluiu o endividamento externo, ou seja, quanto é que comprámos no exterior que não estava coberto por vendas ao exterior.
O PIB teve um crescimento residual mas as despesas do Estado subiram muito.
Essas foram as razões do nosso empobrecimento.
Claro que há ricos e pobres, como em todo o lado, mas invocar isso neste caso parece-me ser apenas uma fuga à realidade.
Na China também há ricos e pobres mas não estão endividados.
Penim, o post põe a tónica no EMPOBRECIMENTO, daí a minha observação a discordar dessa narrativa.
Chamar a atenção para o facto de Portugal ser um dos países onde é maior o fosso entre ricos e pobres, não é fugir à realidade, é encará-la de frente.
Se a riqueza criada se mantém, na realidade cresce um pouquito, e a maioria está mais pobre é porque há alguém que está mais rico.
Na 2ª parte da década de 70 a parte do trabalho no PIB era superior a 60%, creio que chegou aos 67%, agora anda à volta dos 50%, pior ainda que a situação dos últimos anos do fascismo, 54%.
Portanto os trabalhadores EMPOBRECERAM não por produzirem menos mas por ficaram com uma fatia menor da riqueza produzida.
Quanto às razões do endividamento externo acho que deves ter uma ideia do que o causou, ou não?
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