segunda-feira, março 31, 2008

Este país não tem velhos

Muito se tem falado do envelhecimento da população. O prolongamento da vida proporcionado pela ciência actual está sem dúvida a produzir um número historicamente inédito de pessoas fisicamente velhas na nossa sociedade.

Esse fenómeno tem, no entanto, ocultado um outro tanto ou mais importante; na nossa sociedade não existem, ou são mediaticamente irrelevantes, os velhos enquanto detentores da sabedoria, da prudência e do cinismo salutar. Quase não há no espaço público quem transmita ponderação, quem separe o essencial do acessório, quem sirva de contraponto ao primarismo dos entusiasmos juvenis que caracteriza as campanhas fervorosas a favor disto e daquilo.

Com honrosas excepções a geração que foi jovem nos anos 60, que cometeu todos os erros a que tinha direito na sua juventude, que viveu a guerra colonial, o fascismo e o PREC recusa-se a envelhecer e, dessa forma, transmitir aos jovens actuais a sua experiência. Recusa-se a reconhecer os erros que cometeu e a aprender com eles na vã ilusão de assim perpetuar a juventude. Não apaga a memória dos tiques e clubismos de sempre. Corre atrás de qualquer moda contestatária, usurpando dessa forma a irresponsabilidade daqueles que estão na idade de ser irresponsáveis e se vêem na contingência de não ter “jarretas" a quem ultrapassar, quanto mais contrariar.

Esta geração que toma o reumático por acne juvenil, que se recusa a "entrar para o armário", devia era usar a sua longa experiência de muitos falhanços e alguns sucessos para ensinar aos jovens a arte do equilíbrio na avaliação das verdadeiras consequências das nossas paixões. Não o faz.
Apoia alegremente a causa do Dalai Lama, os casamentos homossexuais, as lâmpadas ecológicas. Em vez de ensinar o papel perene das utopias afadiga-se como a Lili Caneças das “causas” fracturantes. Demite-se da sua função geracional e dessa forma inibe os realmente jovens de o ser plenamente.
Onde estão os nossos jovens iconoclastas ? Se acaso existem ninguém dá por eles.

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3 comentários:

Joana Lopes disse...

Isso é piada?

Eu posso passar a dizer que não gramo o Dalai Lama (o que até é parcialmente verdade), que se já não percebo por que razão se casam os hetero não vejo porque o farão os homo e que, cá por casa, há poucas lâmpadas modernaças...

F. Penim Redondo disse...

Acabas de te redimir...

Rosa Redondo disse...

ESTE PAÍS TEM DEMASIADAS CRIANÇAS!!!

Outra face da situação que descreveste é a de uma cultura oficial em que a categoria “criança” foi esticada até aos limites do impossível.
Temos “matulonas” de 18 anos a serem consultadas pelo pediatra, “marmanjos” de 15 com 1,90m e vários assaltos no cadastro a serem considerados inimputáveis e seguidos pelo pedo-psicólogo....Etc. Etc.
É teoria geral que os queridos infantes nasceram invariavelmente bons e que tudo o que façam de errado é culpa da sociedade, com os pais à cabeça, que não está a cumprir a sua missão de os levar ao colo e livres de qualquer traumatismo até aos amanhãs que cantam.
Pertencemos a uma geração que infelizmente não conseguiu resolver bem o problema com os seus Pais. Quedou-se, tal como tu bem observas, na fase de contestação, apavorada com a ideia de ter de assumir a “detestada autoridade”.

Perguntas: “Onde estão os nossos jovens iconoclastas?”
Arrisco uma hipótese de resposta: Ainda são muito pequeninos....